Grécia: a outra crise que está a ser ofuscada pelo Grexit



O referendo grego, possibilidade de Grexit – saída da Grécia da Zona Euro – e toda a conturbada situação financeira do país está a ofuscar uma outra crise, menos “glamourosa”: a dos refugiados. No entanto, ela existe e todos os dias continuam a chegar barcos de migrantes e pessoas à espera de asilo no mais próximo país da União Europeia. Neste caso, a Grécia.

Segundo o Irin, o centro da cidade de Chios transformou-se numa casa sem tecto para milhares de migrantes, que todos os dias vão chegando com as suas famílias. “Não há sítio para ficar. Nem sequer há água nas casas de banho públicas”, explicou Ennes, um sírio de 35 anos que vive num campo improvisado pelas autoridades gregas há algumas semanas.

Ennes trabalhou na Turquia antes de decidir tentar a sua sorte na Europa. O seu plano é atravessar a Grécia e viajar até aos Balcãs, para depois chegar ao Norte da Europa – a maioria dos refugiados que chegam a terras helénicas têm a mesma ideia.

Segundo a agência das Nações Unidas para os refugiados – UNHCR – cerca de 68.000 migrantes e pessoas à procura de asilo chegaram desde o início do ano, de barco, à Grécia – mais 560 que em 2014. Este número é ligeiramente superior às chegadas, via barco, a Itália, a alguns quilómetros de distância. Até ao final do ano, mais de 200.000 migrantes refugiados deverão chegar a terras gregas.

“A maioria dos migrantes que chegam têm pouco ou nenhum acesso a medicamentos ou ajuda humanitária e, muitas vezes, são obrigados a permanecer em condições imundas, em centros de detenção sobrelotados ou campos abertos”, afirmou ao Irin o director da Amnistia Internacional para a Europa e Ásia Central, John Dalhuisen.

Em Samos, Levos, Chios, duas unidades de recepção móveis determinam a nacionalidade dos novos refugiados e dão-lhes a assistência médica e humanitária básica. A porta-voz da UNHCR na Grécia, Ketty Kehayioylou, confirmou que as condições dos centros de refugiados são más, mas a polícia e guarda costeira estão a fazer o melhor para conseguirem gerir tantas novas chegadas.

Há refugiados que ficam uma semana à espera dos documentos para seguirem a sua viagem e, à medida que as condições do campo pioram, novas tensões criam-se entre os diferentes grupos de migrantes e a comunidade local.

A Grécia depende da União Europeia para gerir a migração, controlar as suas fronteiras e suportar o sistema de asilo. Através do fundo para a migração e integração, a Grécia vai receber €260 milhões entre 2014 e 2020. Outros €168 milhões foram alocados para assegurar as fronteiras gregas durante este período.

A possibilidade da Grécia sair da Zona Euro ou da União Europeia porá em causa todo este financiamento, assim como o acordo conseguido há duas semanas em Bruxelas, que levará 40.000 refugiados que chegaram nos últimos tempos à costa grega e italiana para outros países da União Europeia.

Foto: Stefanie Eisenschenk / Creative Commons





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