Greenpeace acusa COP27 de encaminhar o mundo para o “inferno climático”



Esta quinta-feira, a agência climática das Nações Unidas publicou no seu website uma primeira versão preliminar do que poderá vir a ser o acordo que sairá da cimeira climática COP27, que termina esta semana, depois de ter arrancado no passado dia 6 em Sharm El-Sheikh, no Egipto. E as reações não se fizeram esperar.

A organização internacional ambientalista Greenpeace, que marca presença no encontro, acusa a presidência egípcia da COP de falhar no combate aos combustíveis fósseis, afirmando que está a encaminhar o mundo para o “inferno climático”.

Yeb Saño, o chefe da delegação da organização na cimeira, afirma que, “numa altura em que os impactos e a injustiça climáticas aceleram” e em que “vidas, modos de subsistência, culturas e países inteiros são perdidos”, se exige “ação real” no que toca ao financiamento da adaptação dos países mais vulneráveis, ao abandono progressivo dos combustíveis fósseis e ao pagamento, por parte dos países mais ricos, por perdas e danos sofridos pelas comunidades mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas.

“Nada disso está nesta primeira versão”, lamenta Saño, que acautela que “não será feita Justiça Climática” se o conteúdo desse documento provisório vier, realmente, a ser refletido numa declaração final.

Ele diz que o texto ignora a urgência manifestada por vários países para o abandono, pelo menos faseado, do petróleo, do gás e do carvão. “É tempo de acabar com a negação, a era do combustível fóssil tem de chegar rapidamente a um fim”, apela o representante da Greenpeace, que destaca que a linguagem contida no texto provisório falha em seguir os compromissos assumidos na cimeira climática anterior, em Glasgow.

Em todo o documento, é possível encontrar uma só referência aos combustíveis fósseis, na secção em que os Estados salientam a importância do reforço das energias renováveis e encorajam medidas com vista ao abandono progressivo de “subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis”.

No que diz respeito ao aquecimento global, o documento “enfatiza a importância de serem levados a cabo todos os esforços a todos os níveis para alcançar a meta de aquecimento global do Acordo de Paris para manter o aumento da temperatura média global bem abaixo dos dois graus Celsius acima dos níveis pré-industriais e de limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais”.

Será relevante notar que o texto reflete os pedidos feitos pelas delegações dos quase 200 países que são parte da Convenção-quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC), e que o conteúdo poderá vir a sofrer alterações até ao final da cimeira, pelo que ainda nada está decidido. No entanto, permite avaliar o estado das negociações e para que lado pendem as vontades dos líderes mundiais.

Outras organizações ambientalistas partilham a opinião da Greenpeace. Por exemplo, a Climate Action Network, que se assume como “a maior rede climática do mundo”, composta por mais de 1.500 organizações da sociedade civil de mais de 130 países, escreve no Twitter que ao texto “falta estrutura e visão claras” e que “sem qualquer justificação” não inclui um compromisso para o abandono faseado de todos os combustíveis fósseis.

Por outro lado, a Environmental Justice Foundation destaca a ausência de referências à criação de um fundo internacional para o financiamento de perdas e danos sofridos pelos países afetados pelas alterações climáticas, bem como falha em estabelecer como prioridade a proteção de refugiados climáticos.

Assim, defende que um acordo que saia da COP27 “deve quebrar o impasse internacional e apresentar um plano de ação climática transformativo”, caso contrário a cimeira terá sido “um fracasso”.





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