Greenpeace acusa Fórum Económico Mundial de “hipocrisia ecológica”
Esta segunda-feira, dia 16, arranca mais um encontro anual do Fórum Económico Mundial (FEM), que congrega no resort de Davos, na Suíça, líderes políticos e empresariais, e também lobistas, dos quatro cantos da Terra. A organização assume o compromisso de “apoiar os esforços globais nos setores privado e público para limitar o aumento da temperatura e evitar o desastre”, mas há quem considere que isso não passam de ‘greenwashing’, ou seja, promessas ambientais ocas.
Numa altura em que os líderes mundiais se encaminham para Davos, a organização ambientalista Greenpeace acusa-os de “hipocrisia ecológica”, pois um relatório desenvolvido pela consultora holandesa CE Delft mostra que, na última cimeira, entre 22 e 26 de maio de 2022, estima que 1.040 jatos privados terão entrado e saído dos aeroportos que servem esse resort suíço, fazendo quadruplicar, para 9,7 quilotoneladas, a média semanal de emissões de dióxido de carbono (CO2) de jatos privados nessa área.
A média semanal ronda as 2,3 quilotoneladas de CO2, pelo que os autores do relatório atribuem diretamente as restantes 7,4 quilotoneladas a voos privados para o FEM.
Contas feitas, os relatores do estudo indicam que a quantidade de CO2 produzida na semana do FEM do ano passado equivaleu às que seriam produzidas por cerca de 350 mil carros durante o mesmo período de tempo.
De acordo com o relatório, 53% de todos esses voos percorreram distâncias inferiores a 750 quilómetros, levando a organização ambientalista a afirmar que “facilmente poderiam ter sido feitas por comboio ou carro”. Desses, 38% foram voos com menos de 500 km, sendo que o voo de jato privado mais curto registado foi de apenas 21 km.
Estima-se que a maioria dos voos para Davos tiveram origem na Alemanha, em França e em Itália.
O documento informa que “os voos privados têm emissões significativamente maiores por passagem do que qualquer outro meio de transporte padrão”, explicando que os jatos privados “são entre 5 e 14 vezes mais poluentes por passageiro do que os voos comerciais e 50 vezes mais poluentes do que os comboios”.
Klara Maria Schenk, da Greenpeace Europa, afirma, em comunicado, que “dado que 80% da população mundial nunca voou, mas sofre com as consequências das emissões da aviação que prejudicam o clima, e que o FEM diz estar comprometido com a meta dos 1,5 graus do Acordo de Paris, este corrupio anual de jatos privados é uma desagradável masterclass sobre hipocrisia”.
A ambientalista diz que só proibindo os jatos privados será possível alcançar “um futuro verde, justo e seguro para todos” e que “está na altura de os nossos líderes políticos começarem a liderar pelo exemplo”.
Na União Europeia não existem mecanismos para regular os jatos privados, mas alguns Estados-membros querem restringir esse meio de transporte altamente poluente.
Em outubro do ano passado, representantes dos governos de França, Áustria, Bélgica, Finlândia, Luxemburgo e Países Baixos reuniram-se com o intuito de discutirem a regulamentação dos “serviços aéreos, através de várias medidas, como restrições ao ruído, a limitação do número de voos em determinados aeroportos, (…) a proibição de voos de curta distância quando existe uma alternativa ferroviária satisfatória, ou regulamentar a aviação executiva e os jatos particulares devido à sua excessiva pegada ambiental”.
Essa aspiração é partilhada pela Greenpeace, que defende a proibição dos jatos privados na UE e os voos de curta distância sempre haja alternativas ferroviárias.