Greenpeace alerta que reciclagem de plástico pode não passar de “ficção”



Projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) apontam que, em 2060, o uso e os resíduos de plástico a nível global triplicarão face aos valores atuais, e a reciclagem, em contraste, aumentará muito pouco. Tal fará com que a poluição por plástico duplique em todo o mundo.

Um relatório divulgado esta segunda-feira pela organização não-governamental do ambiente (ONGA) Greenpeace avança que, em 2021, as famílias nos Estados Unidos produziram umas estimadas 51 milhões de toneladas de resíduos de plástico, das quais apenas 2,4 milhões foram recicladas, ou seja, cerca de 4,7%.

“As indústrias dos plásticos e dos produtos têm vindo a promover a reciclagem do plástico como a solução para os resíduos de plástico desde o início da década de 1990”, afirmam os ambientalistas, mas, 30 anos volvidos, “a grande maioria dos resíduos de plásticos nos Estados Unidos continua a não ser reciclável”. A análise, intitulada ‘Circular Economy Claims Fall Flat Again’, revela que, em 2021, a taxa de reciclagem de plástico nesse país caiu para entre 5% e 6%, depois de em 2014 ter atingido os 9,5% e os 8,7% em 2018.

A ONGA salienta, no entanto, que os aumentos da percentagem de reciclagem devem ser interpretados com precaução, considerando que os EUA enviam milhões de toneladas de resíduos de plástico para a China e que o classificam como ‘reciclagem’, embora esses resíduos acabem por ser incinerados ou depositados em aterros.

Assim, a queda da taxa de reciclagem em 2021 será justificada, em parte, pela recusa da China em aceitar mais resíduos plásticos oriundos dos EUA.

A Greenpeace argumenta que “as indústrias dos plásticos, das embalagens e da reciclagem têm travado, ao longo de décadas, uma campanha de desinformação para perpetuar o mito de que o plástico é reciclável”, e aponta que a reciclagem do plástico e a sua integração numa economia circular é uma “ficção”.

O relatório aponta que a reciclagem do plástico está repleta de obstáculos que impedem a sua concretização como solução para o problema da proliferação contínua de resíduos. Entre eles, indicam os custos elevados da recolha, seleção, transporte e reprocessamento dos plásticos; e que o próprio tratamento desses resíduos gera ainda mais resíduos, na forma de microplásticos.

“Ao fim de mais de 30 anos, é altura de aceitar que a reciclagem de plástico é um conceito falhado”, sentencia a organização, alegando que a solução passa pela redução dos plásticos e embalagens de utilização única, com a sua substituição, por exemplo, por materiais reutilizáveis, soluções que já existem e nas quais as empresas e os grandes poluidores devem investir.

“Essas empresas não podem continuar a usar a reciclagem como uma ‘cortina de fumo’ para desviar as atenções sobre as alterações sistémicas que são necessárias”, diz a Greenpeace.

Além da reutilização, os ambientalistas apelam também a mais ação política neste campo e instam os governos de todo o mundo a estabelecerem “um tratado ambicioso sobre plásticos, que abarque todo o ciclo de vida dos produtos de plástico e que enfatize a redução”, colocando como prioridades máximas a economia circular, a responsabilização dos produtores de plástico, a proibição de plásticos de uso único e a promoção de sistemas de reutilização.





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