Greenpeace denuncia entrega de urânio à França proveniente da Rússia
A Greenpeace denunciou ontem a entrega à França de um carregamento de urânio enriquecido proveniente da Rússia, situação que, segundo a organização ambientalista, revela a dependência francesa da indústria nuclear russa.
Um cargueiro descarregou na manhã de hoje, no porto de Dunquerque, vários contentores de urânio provenientes da Rússia, segundo testemunhou no local um jornalista da agência noticiosa francesa AFP, que foi notificado desta operação pela Greenpeace.
“Esta é mais uma prova de que a indústria nuclear francesa continua a comercializar urânio com a Rosatom [empresa estatal russa para o desenvolvimento de energia nuclear]”, afirmou Pauline Boyer, especialista da Greenpeace na área de energia nuclear e transição energética.
“A continuação deste comércio nuclear com a Rússia, em tempo de guerra, é escandalosa”, criticou Boyer, referindo-se à invasão da Ucrânia.
Num comunicado, a organização não-governamental (ONG) ambientalista precisou que ontem de manhã no porto francês de Dunquerque o cargueiro russo Baltiyskiy 202, procedente de São Petersburgo, descarregou “25 contentores cilíndricos com urânio enriquecido russo para o grupo francês Orano (ex-Areva)”.
Segundo a ONG, estes contentores foram “carregados numa dúzia de camiões com destino” à fábrica Pierrelatte, na região de Drôme, constituindo a sétima entrega de urânio da Rússia à França desde o início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022.
Num relatório de 11 de março, a Greenpeace já tinha denunciado o “vínculo de dependência” de França em relação à energia nuclear russa, setor que não é alvo de sanções internacionais.
A ONG lembrou que a França recebeu da Rússia “um terço do urânio enriquecido necessário para a operação das centrais nucleares francesas durante um ano”.
Num comunicado recente, o Governo francês refutou estes dados, garantindo que o “país não depende de forma alguma da Rússia para a operação das respetivas centrais nucleares” e alegando que as autoridades energéticas têm conseguido “diversificar as suas fontes de abastecimento”.