Grupos de primatas perdem coesão à medida que aumenta o número de indivíduos ‘séniores’
Até 2050, espera-se que 22% da população humana a nível global tenha 60 ou mais anos de idade, o que equivale a quase o dobro do que se registava em 2012, de acordo com previsões da Organização Mundial da Saúde.
Uma melhor qualidade de vida, fruto dos avanços médico-científicos e de melhorias na alimentação, permitiram ao Homo sapiens viver muito para além do que a lei natural tinha inicialmente definido, o que possibilitou, por sua vez, que se tornasse a espécie dominante na Terra, encontrada em todos os biomas.
No entanto, o envelhecimento populacional e a incapacidade para compensá-lo com novos nascimentos trarão consequências de vários tipos, desde logo a nível económico, mas também ambiental, uma vez que, as pessoas vivem cada vez mais e os recursos do planeta, como já vemos tão claramente, estão sob grande pressão.
Mas quais serão as consequências sociais de uma população cada vez mais velha? Para tentarem responder a essa questão, um grupo de cientistas de vários países, incluindo de Portugal (José Pereira da Universidade de Coimbra), têm estudado, há décadas, os macacos-rhesus (Macaca mulatta) na ilha de Cayo Santiago, em Porto Rico, também conhecida como ‘Ilha dos Macacos’.
A mais recente investigação nesse local revela que quanto mais indivíduos acima dos 18 anos tiver uma população maior será o nível de perda de coesão social e a capacidade para se estabelecerem novas ligações. Algo que os cientistas dizem ser também visível entre os humanos.
Nas fêmeas, isso é mais patente, pois à medida que envelhecem as suas redes sociais ficam mais reduzidas e tendem a priorizar ligações já existentes com outros indivíduos do grupo.
Nesta população porto-riquenha, menos de 20% dos macacos são ‘séniores’, ou seja, têm menos de 18 anos, pelo que os investigadores não conseguiram avaliar com exatidão a forma como o envelhecimento da população afeta a coesão social do grupo.
Por isso, recorreram a simulações de computador, e perceberam que quanto maior for essa percentagem menor será a coesão, com os indivíduos mais velhos a preferirem focar as suas atenções em ligações sociais mais próximas.
Os cientistas verificaram que as fêmeas mais velhas tinham pouca influência na sociedade, pois “ao terem menos amigos, eram menos capazes de transmitir conhecimento e experiência além dos seus círculos sociais imediatos”, explica Erin Siracusa, da Universidade de Exeter e principal autora do artigo publicado hoje na revista ‘Philosophical Transactions of the Royal Society B’.
Assim, concluem que quanto maior for a percentagem de indivíduos ‘séniores’ nos grupos de macacos-rhesus menor será a capacidade de transmissão de conhecimentos e de cooperação.
O objetivo dos cientistas era perceber se será possível aplicar o que se observa nessas sociedades de primatas ao nível das populações humanas, pois “o envelhecimento populacional será uma das transformações sociais mais significativas do século XXI”, aponta a especialista.
Embora não o afirmem categoricamente, os investigadores sugerem que o envelhecimento esperado das populações humanas poderá provocar profundas alterações nas estruturas e dinâmicas sociais, pois as redes sociais de indivíduos mais velhos tendem a concentrar-se em ligações mais próximas pré-existentes e os fluxos de transmissão de conhecimentos poderão ser ainda mais limitados.
“Por exemplo, declínios da coesão e ligação estrutural em redes mais velhas podem limitar ou desacelerar a transferência de informação, restringir o potencial para a cooperação ou reduzir a estabilidade das populações”, escrevem os investigadores, acautelando, contudo, que é preciso mais trabalho para perceber que alterações podemos esperar no futuro.