Guerra das formigas: Como as espécies nativas podem ganhar a batalha contra as pragas invasoras
Uma nova investigação, que utiliza conhecimentos de jogos virtuais e de batalhas de formigas no mundo real, mostra como os insetos nativos podem ter vantagem sobre algumas espécies introduzidas agressivas, o que poderá ajudar a orientar a gestão de formigas invasoras não nativas.
Samuel Lymbery, que realizou este trabalho como Forrest Prospect Fellow na Universidade da Austrália Ocidental e na CSIRO, a agência científica nacional da Austrália, utilizou modelos matemáticos em simulações de jogos de vídeo, obtidos a partir do jogo Age of Empires II, para ilustrar a forma como a dinâmica do campo de batalha altera os resultados da guerra.
Estes conceitos foram depois confirmados no mundo real através da observação de batalhas de formigas entre as formigas australianas, uma espécie nativa, e as formigas argentinas mais pequenas, uma praga notória.
“O que descobrimos nos jogos virtuais e nas batalhas de formigas na vida real foi que a mortalidade nos pequenos exércitos de formigas australianas que enfrentavam grandes exércitos de formigas argentinas não nativas era menor em arenas complexas e maior em arenas simples”, disse Lymbery.
“Assim, tal como acontece com os humanos e nos jogos de computador, o resultado das guerras de formigas depende da natureza do campo de batalha”, acrescentou.
Raphael Didham, Professor de Ecologia na Escola de Biologia Animal da Universidade da Austrália Ocidental e cientista do CSIRO, afirmou que os insectos sociais, como as formigas, são uma das poucas espécies que se envolvem em guerras à mesma escala que os humanos.
“Isto porque o futuro evolutivo das formigas operárias estéreis que lutam é investido no bem maior da colónia”, disse o professor, sublinhando que utilizaram duas espécies de formigas que “diferiam claramente” nas suas capacidades de combate. “A nossa primeira combatente foi a formiga-carne australiana, Iridomyrmex purpureus. Estas formigas grandes e bonitas são dominantes nos matos não perturbados da Austrália regional e constroem ninhos de cascalho”, explicou.
“Como inimigas, selecionámos a notoriamente invasora formiga argentina, Linepithema humile. Estas formigas agressivas foram introduzidas na Austrália e são comparativamente pequenas, mas vivem em colónias extremamente grandes e hiper-cooperativas”, acrescentou.
Segundo o investigador, “as formigas carnívoras derrotam sempre as formigas argentinas em duelos um contra um devido à sua vantagem de tamanho.”
Como a modificação do campo de batalha pode ditar a vitória
Bruce Webber, investigador principal da CSIRO, afirmou que a investigação sobre o campo de batalha das formigas pode ter aplicação prática na gestão das formigas invasoras não nativas. “As formigas invasoras não-nativas são algumas das piores pragas do planeta, custando à economia global dezenas de milhares de milhões de dólares por ano”, explicou.
“As formigas invasoras, como as formigas argentinas, são tipicamente mais pequenas e mais numerosas do que as espécies nativas, e são frequentemente mais dominantes em habitats perturbados”, acrescentou.
Bruce Webber explica ainda que “os ambientes perturbados são frequentemente simplificados ao nível do solo, com a remoção de vegetação rasteira e detritos naturais criando campos de batalha abertos” e que “esta investigação sugere que a modificação de áreas onde coocorrem formigas nativas e não nativas, através da adição de detritos naturais ou outras estruturas do género, pode fazer pender a balança a favor das nossas espécies nativas de maior dimensão.”
Lymbery sublinha que, ao modificar os ambientes naturais, as formigas nativas tiveram mais oportunidades de sucesso.
“A teoria da guerra sugere que menos soldados e mais fortes serão mais eficazes quando as batalhas são uma série de duelos individuais. Mas os exércitos maiores são mais eficazes quando podem cercar os seus inimigos e concentrar os ataques”, afirma Lymbery, acrescentando que “a complexidade do campo de batalha pode fazer pender a balança a favor de uma estratégia em detrimento de outra”.
“Quando se luta em túneis, becos ou terrenos difíceis, é mais difícil para os grandes exércitos cercarem os seus adversários, pelo que as pequenas forças de soldados fortes ou experientes podem por vezes ser bem-sucedidas”, conclui.