“Guerras dos Peixes”: Alterações climáticas e redução dos stocks podem criar ou intensificar conflitos geopolíticos
Os efeitos das alterações climáticas, como secas, incêndios e outros eventos extremos, podem criar ou agudizar conflitos nos países mais afetados. A falta de água, de energia, de alimento e de pastos fará provocará instabilidade social, com uma crescente população humana a competir por recursos cada vez mais escassos.
Com isso, em mente, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América (EUA), através da sua iniciativa Minerva de apoio à investigação científica em prol da defesa nacional, vai financiar em cerca de um milhão de euros um projeto cujo principal objetivo é perceber os impactos das alterações climáticas nos stocks de peixe e como a redução das populações piscícolas poderá fazer aumentar os conflitos geopolíticos no oceano.
O projeto, com o nome ‘Future Fish Wars: Chasing Ocean Ecosystem Wealth’, pretende construir “uma nova teoria económica e abordagens para medir o valor económicos das pescarias no contexto das alterações climáticas e dos crescentes conflitos geopolíticos no oceano”, diz em comunicado a Universidade de Exeter (Reino Unido), uma das entidades envolvidas.
O projeto terá como foco o estudo da dispersão dos cardumes para outros locais ou para as águas territoriais de outros países, devido às mudanças de temperatura dos oceanos, podendo limitar ou mesmo cortar o acesso histórico de algumas nações a esse recurso. Outro enfoque será dado à redução absoluta dos stocks de peixe, que fará aumentar a competição por um recurso cada vez menor.
“As pescarias que existem hoje nos EUA podem mover-se para águas canadianas ou mesmo russas em 20 anos”, explica James Watson, da Oregon State University, que será o principal investigador deste projeto.
“Iremos explorar formas de medir essas alterações e as suas potenciais consequências, económica e politicamente, em particular nos oceanos Ártico e Pacífico”, acrescenta.
O projeto contará também com investigadores da WWF e do Instituto Peterson para a Economia Internacional.
Ethan Addicott, da Universidade de Exeter, considera que “a depleção dos recursos mundiais é frequentemente destacada como a causa e a consequência da emergência climática global, mas menos atenção tem sido dada às formas como as alterações climáticas irão redistribuir a riqueza, a produtividade e o capital”.
Através de dados recolhidos por modelos baseados nos sistemas da Terra, os investigadores querem identificar os locais onde é mais provável que tensões e conflitos entre os países possam surgir devido à falta de peixes.
“No atual mundo altamente conectado, pequenas tensões podem rapidamente escalar e fugir ao nosso controlo”, avisa Watson, observando que “se conseguirmos determinar quando e onde essas tensões podem ocorrer, isso poderá ajudar a preveni-las”.