Há 90 milhões de anos a Antártida não tinha gelo e era uma floresta tropical



Alguns sedimentos enterrados extraídos do fundo do mar na Antártida Ocidental contêm pólen antigo, raízes fossilizadas e outras evidências de uma floresta que floresceu há milhões de anos, a menos de mil quilómetros do Polo Sul.

Os investigadores da Nature reconstruiram as condições atmosféricas desta zona através dos sedimentos encontrados e concluiram que há cerca de 92 milhões de anos as médias anuais da floresta existente eram de 13 graus, sendo que no verão poderiam chegar aos 25 graus.

Sabe-se que o meio do período cretáceo foi um dos períodos mais quentes da Terra nos últimos 140 milhões de anos, com base em análises de fósseis e sedimentos colectados no fundo do mar, próximo ao equador.
Pensa-se que os níveis atmosféricos de dióxido de carbono tenham sido de pelo menos 1.000 partes por milhão. Atualmente, os níveis atmosféricos de dióxido de carbono ficam em média em torno de 407 ppm, o mais alto dos últimos 800.000 anos.

Mas, para que uma floresta prospere tão a sul, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera deverão ter estado entre 1.120 e 1.680 ppm, diz o geólogo marinho Johann Klages.

A equipa de investigação analisou o núcleo de 30 metros de comprimento dentro do Amundsen Sea Embayment, onde hoje as geleiras de Thwaites e Pine Island, que derretem rapidamente nos dias de hoje, drenam para o mar. Mesmo antes de analisar o núcleo, afirma Klages, os investigadores sabiam que era especial: os três metros inferiores de sedimento, correspondentes ao tempo do período cretáceo médio, apresentavam traços de raízes.

“Vimos muitos núcleos da Antártica, mas nunca vimos nada disto”, diz Klages.

O pólen no núcleo sugeria que esta floresta antiga abrigava coníferas, samambaias e arbustos floridos, além de esteiras de bactérias. As análises dos sedimentos não mostraram vestígios de sal, sugerindo que era um pântano de água doce.

Os dados florestais também são fortes evidências de que a Antártica estava praticamente livre de gelo durante o meio do período cretáceo, diz Klages. O alto nível de dióxido de carbono por si só não seria suficiente para manter as temperaturas amenas. Se uma camada de gelo branca e brilhante estivesse presente, por exemplo, teria refletido grande parte da luz solar de volta para o espaço, mantendo a terra fria. Mas a cobertura vegetativa tem o efeito oposto, absorvendo mais calor solar e amplificando o aquecimento.

O estudo representa “um registo inequívoco não apenas das condições mais quentes, mas de uma flora florestal diversificada” no Polo Sul, diz Julia Wellner, geóloga da Universidade de Houston.

Quanto à importância que esta descoberta pode ter para as mudanças climáticas actuais e o derretimento das geleiras da Antártica, Wellner observa que é difícil estabelecer paralelos directos. Os níveis atmosféricos de dióxido de carbono de hoje estão muito abaixo dos níveis médios do Cretáceo, mas estão a subir. E as massas continentais moveram-se ao longo de milhões de anos – empurradas e puxadas pelas placas tectónicas da Terra – levando, em parte, a padrões de circulação oceânica e atmosférica que diferem dos do passado profundo.





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