Incêndios no sul da Europa: uma fatalidade?
Os incêndios que grassam no sul de França levaram à retirada de pelo menos 10 mil pessoas das suas casas. Terão ardido cerca de quatro mil hectares ao longo da costa do Mediterrâneo, e o Governo francês teve de pedir ajuda aos parceiros europeus para combater os fogos. Em Itália, há 15 dias, os bombeiros tiveram de combater mil focos de incêndio activos num só dia e várias localidades tiveram também de ser evacuadas. Em Espanha os “grandes incêndios” ameaçaram uma das maiores reservas naturais da Europa e levaram à evacuação de 2 mil pessoas. Em Portugal nem precisamos de falar, mas os fogos continuam activos, as aldeias a serem evacuadas e a floresta a perder hectares.
Nada que não estivesse já previsto em vários estudos como o Peseta II, da Comissão Europeia (CE) sobre os impactos climáticos no continente. Ali pode ler-se que as zonas susceptíveis de arderem na Europa do sul poderão aumentar em 50% ou até mesmo 100% durante este século XXI, em virtude da intensidade do aquecimento global. E as alterações climáticas vão certamente aumentar a duração da época de fogos (lembrem-se como este ano começou mais cedo), o número de zonas em risco e a intensidade dos fogos: os tais mega-fogos, como o que atingiu o país há um mês.
A floresta sempre ardeu, será uma fatalidade(?), o que está a mudar é a intensidade e a frequência. Mais, nas últimas décadas, a actividade humana está a contribuir para agravar as consequências, com o abandono das terras de cultivo, e a adopção de modelos económicos baseados em monoculturas florestais (como os eucaliptos) que poderão ser mais rentáveis mas definitivamente não ajudam na prevenção. Além disso, existem cada vez mais casas nas proximidades das florestas, seja por um turístico regresso ‘à natureza’ seja simplesmente por culpa do abandono dos campos.
É por isso que ordenamento do território e a gestão florestal assumem um papel ainda mais importante, com a adopção de modelos baseados na biodiversidade e espécies autóctones, como os carvalhos e os sobreiros, que oferecem uma resistência inegavelmente superior. Pelo regresso activo aos campos, porque a agricultura é o melhor dos corta fogos, por exemplo com culturas de vinhas, oliveiras ou outras. E impedindo a proximidade das habitações na floresta.Depois, então, podemos tomar outras medidas ‘simples’ como a abertura de corta fogos e a limpeza das florestas.
Finalmente, temos de perceber que a prevenção começa em cada um, porque a esmagadora maioria dos fogos tem mão humana, criminosa ou acidental. Duplicar os cuidados na proximidade das florestas ou limpar as zonas à volta das habitações e aldeias reduz consideravelmente os riscos.
Foto: Cco Public Domain