Índia tem uma das maiores densidades de leopardos-das-neves

Chamados muitas vezes de “fantasmas das montanhas”, por viverem em habitats de altitude e por serem difíceis de observar, os leopardos-das-neves (Panthera uncia) são uma espécie vulnerável ao risco de extinção. Os conflitos com humanos, a escassez de presas e a perda de habitats estão entre as principais ameaças.
Atualmente, a sua área de distribuição incide sobretudo sobre a Ásia central, estendendo-se dos Himalaias, a sul, às montanhas Altai, a norte, e do Paquistão, a ocidente, à China, a oriente.
Uma investigação publicada recentemente na revista ‘PLOS One’ debruçou-se sobre a presença na Índia desse felídeo esquivo e emblemático da fauna centro-asiática. Os cientistas descobriram que a maioria dos leopardos-das-neves que ocorrem nesse país vivem na região de Ladaque, uma área remota no norte indiano, perto dos Himalaias.
Através de uma análise intensiva de vestígios de leopardos-das-neves, como pegadas, fezes e marcas de garras, e recorrendo a mais de 900 câmaras, os cientistas concluíram que em Ladaque vivem 477 desses predadores, o que representa 68% da população total que ocorre na Índia, com uma densidade que varia entre um e três leopardos por 100 quilómetros quadrados. Usando tecnologias de Inteligência Artificial, foi possível identificar indivíduos específicos e criar uma espécie de base de dados e de fotografias dos animais que aí vivem.
A investigação revelou também que o Parque Nacional Hemis, nessa mesma região, tem a maior densidade registada de leopardos-das-neves a nível global.
O estudo avança ainda que 61% desses animais coexistem com populações humanas, com os animais a preferirem pradarias com climas moderados e com terrenos acidentados, como montanhas.
Os autores deste trabalho consideram que a forte presença de leopardos-das-neves na região de Ladaque deve-se a uma combinação de fatores, como a abundância de presas, paisagens remotas e escarpadas, baixa densidade humana e o que dizem ser uma cultura de profundo respeito das comunidades locais para com a espécie.
“A reverência bem enraizada pela vida selvagem entre as comunidades de Ladaque, combinada com os benefícios económicos do turismo dos leopardos-das-neves e estratégias de gestão de conflitos, ajuda a manter uma das densidades de leopardos-das-neves mais elevadas de todo o mundo”, dizem os investigadores.
E a equipa acredita que esse modelo de coexistência pode ser adaptado e reforçado ao longo de toda a área de distribuição geográfica da espécie, com vista à sua recuperação.