Insetos voadores estão em declínio no Reino Unido? Números caem 64% desde 2004



Quando fazemos longas viagens de carro, é habitual chegarmos ao destino com a frente do automóvel repleta de pequenos insetos alados que aí encontraram o seu derradeiro fim. Contudo, especialistas e amadores estão a usar essa mortandade para avaliarem as populações de insetos no Reino Unido, e as conclusões estão longe de serem animadoras.

De acordo com um relatório divulgado recentemente pelas organizações Kent Wildlife Trust e Buglife, o número de insetos encontrados mortos nas matrículas dos carros nesse país caiu 63,7% entre 2004 e 2022. Essa avaliação foi feita com base nos dados introduzidos numa aplicação para dispositivos móveis, na qual, todos os verões, cientistas amadores registam a quantidade de insetos encontrados nas suas matrículas depois de uma viagem. Face a 2021, o número deste ano regista uma queda de 5,3%.

Apontando que os invertebrados, como os insetos, são “fundamentais” para o funcionamento dos ecossistemas e para os serviços que disponibilizam às sociedades humanas, o relatório alerta que “sem eles, a vida na Terra colapsará”.

A análise registou declínios do número de insetos mortos nas matrículas de carros em Inglaterra, na Escócia, no País de Gales e na Irlanda do Norte ao longos dos últimos 18 anos. Só na Escócia foi possível observar um aumento entre 2021 e 2022.

“Estes resultados são consistentes com as tendências de declínio das populações de insetos” reveladas por outros estudos, e devem servir como alerta para que os decisores implementem políticas que protejam os invertebrados, diz o relatório.

Cada vez mais estudos científicos apontam para perdas significativas das populações de insetos e de outros invertebrados a nível global, que se podem regista “em todos os grupos funcionais de insetos”, desde os herbívoros aos predadores, passando pelos polinizadores. E essas perdas podem ter “impactos catastróficos nos sistemas naturais da Terra e na sobrevivência humana no nosso planeta”, assinalam os autores.

Os invertebrados “polinizam a maior parte das culturas mundiais, fornecem serviços de controlo natural de pestes, e decompõem matéria orgânica e reciclam nutrientes para o solo”, explicam, declarando que “sem eles, não podíamos cultivar cebolas, couves, brócolos, malaguetas, a maior parte dos tomates, café, cacau, grande parte dos frutos, girassóis e colza”.

Além desses serviços de ecossistema de grande importância, os insetos, bem como outros invertebrados, são a base de inúmeras cadeias alimentares, essenciais para a sobrevivência de várias aves, répteis, morcegos, anfíbios, peixes e até de mamíferos terrestres.

Andrew Whitehouse, da Buglife, afirma que os dados recolhidos, introduzidos na app ‘Bugs Matter’ por quase sete mil voluntários que fizeram mais de quatro mil viagens este verão, sugerem que 2022 é o segundo ano consecutivo em que se registaram “declínios catastróficos” do número de insetos voadores nas matrículas dos carros no Reino Unido.

“Numa altura em que as negociações na COP15 [cimeira global da biodiversidade que decorre no Canadá] se aproximam do fim”, escreve no Whitehouse no Twitter, este relatório revela “perdas chocantes nos números de insetos voadores no Reino Unido”.





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