Investigador batiza fóssil com 444 milhões de anos com o nome da mãe

Há cerca de 25 anos que a paleontóloga Sarah Gabbott, da Universidade de Leicester (Reino Unido), tem estudado um fóssil que preserva o interior de um artrópode com 444 milhões de anos.
O longo processo de análise, documentação e classificação desse animal culminou na publicação de um artigo na revista ‘Papers in Palaeontology’ e na descrição de um novo género e de uma nova espécie. O fóssil, encontrado na África do Sul e atribuído ao período Ordovícico Superior, foi batizado com o nome científico Keurbos susanae, em homenagem à mãe da investigadora, chamada Susan.
Christine Gabbott, que se refere ao fóssil simplesmente como Sue (abreviatura de Susan), explica, em comunicado, que o animal “é uma maravilha”, tendo o seu interior ficado bem preservado na rocha, sendo possível ver vestígios dos seus músculos, tendões e até vísceras “com um detalhe inimaginável”.
No entanto, a cabeça, as patas e a carapaça quitinosa (típica dos artrópodes) do animal não estão presentes no fóssil, algo a que a investigadora atribui às forças de decomposição, e que torna este animal único nos registos fósseis, pois, por normal, o exoesqueleto fica preservado e as partes moles é que desaparecem.
“Estamos agora certos de que ela foi um artrópode marinho primitivo”, afirma Gabbott, mas admite frustração por ainda não ter sido possível perceber, com precisão, com que espécies modernas que relacionará.
O fóssil Sue terá sobrevivido a uma intensa glaciação que há mais de 440 milhões de anos gelou a Terra e fez desaparecer quase 85% das espécies do planeta, um dos cinco grandes eventos de extinção em massa no registo geológico. De acordo com os investigadores, a bacia oceânica onde o animal viveu conseguiu, de alguma forma, escapar aos efeitos mais devastadores dessa glaciação, servindo de refúgio para muitas espécies, além de Sue, como os paleontólogos verificaram com base nos vestígios fossilizados encontrados no local.
Ao analisar os sedimentos nos quais o fóssil Sue foi descoberto, a equipa, que inclui também investigadores do Museu de História Natural de Londres e da Universidade de Stellenbosch (África do Sul), não detetou sinais de oxigénio e a presença de sulfureto de hidrogénio, um gás tóxico.
Por isso, acreditam que terá sido essa estranha composição química que terá possibilitado a preservação pouco habitual do fóssil. E é precisamente por causa dessa preservação única que é difícil comprar a Sue com outros fósseis para perceber a sua história evolutiva.
“Na brincadeira, digo à minha mãe que dei o nome dela ao fóssil Sue porque ela é um espécime bem conservado!”, graceja Sarah Gabbott, “mas, na verdade, dei-lhe o nome Sue porque a minha mãe sempre me disse para seguir uma carreira que me faça feliz, qualquer que ela fosse”.
“Para mim, isso é escavar rochas, encontrar fósseis e, depois, tentar perceber como eles viveram e o que nos podem dizer sobre a vida ancestral e a evolução na Terra.”