Investigadora portuguesa usa drones para mapear lixo marinho e proteger tartarugas-comuns em Cabo Verde



A doutoranda Diana Sousa Guedes, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, está em Cabo Verde para estudar o impacto do lixo marinho, sobretudo o plástico, nas populações locais de tartarugas-comuns (Caretta caretta).

Para isso, está a usar drones para mapear, a partir dos céus, a quantidade de resíduos que flutuam nos mares em redor desse arquipélago africano, e os primeiros resultados da investigação são motivo de preocupação.

“Numa das praias da ilha de Santa Lúzia (lado norte), detetámos 917 itens de plástico grandes, médios e pequenos (maiores de um milímetro) por metro quadrado”, avança a cientista em notícia publicada no site da Universidade do Porto.

Diana Sousa Guedes segura um juvenil de tartaruga-comum em Cabo Verde.
Foto: Diana Sousa Guedes

Embora a praia não seja habitada por humanos, Diana Guedes considera que as correntes oceânicas são responsáveis pela concentração de lixo marinho nesse local. “Estando na rota do Giro do Atlântico Norte, as praias do Norte e Este destas ilhas acumulam muito do lixo que vem dos oceanos”, aponta.

A bióloga quer identificar as zonas de Cabo Verde onde as tartarugas-comuns nidificam e possam estar mais expostas à ameaça dos resíduos marinhos, bem como onde a subida do nível do mar, outro reflexo das alterações climáticas, possa estar a pôr em risco os ninhos da espécie.

Explicando que cerca de 80% do plástico encontrado pode ser associado às práticas da pesca, afirma que “estes mapas poderiam levar a medidas práticas, por exemplo, pressionar para a restrição na produção e utilização de materiais de pesca feitos de plástico e o incentivo a materiais mais sustentáveis; a limpeza mais regular destas praias mais vulneráveis; ou a educação e sensibilização ambiental das comunidades locais de pescadores”.

A poluição por plástico pode não só ameaçar a vida das tartarugas, e de muitos outros animais e até plantas, mas dificultar ou mesmo impedir a sobrevivência das crias recém-nascidas. Com o areal das praias repleto de plástico, as pequenas tartarugas têm de enfrentar uma “corrida de obstáculos para chegar ao mar”.

Já em 2021, Diana Guedes e colegas tinham percebido que o plástico nas praias afeta a sincronização do nascimento das tartarugas, verificando que “o plástico na superfície dos ninhos afeta a emergência sincronizada dos juvenis, por exemplo, cria um efeito de barreira impedindo-os que saiam todos ao mesmo tempo do ninho”.

“Isto pode ser problemático porque a emergência sincronizada do ninho dá-lhes uma vantagem de sobrevivência nas praias: ao saírem todas juntas, o risco de predação (por caranguejos, por exemplo) é menor”, avisa.

Além disso, o plástico contamina as areais onde os ninhos são feitos, podendo causar “imensos problemas endócrinos nos organismos”, diz a investigadora.





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