Investigadores defendem repensar sementes no mercado para promover polinizadores

Investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto alertaram para a urgência de repensar as misturas de sementes atualmente disponíveis no mercado para a promoção de polinizadores em espaços verdes urbanos.
“Uma falha crítica no mercado de sementes ameaça a biodiversidade urbana, enquanto o seu potencial como ferramenta de conservação permanece subaproveitado”, resume a instituição, em comunicado, referindo-se ao estudo publicado na quarta-feira na plataforma MDPI.
O estudo, que avaliou sistematicamente as misturas de sementes comercializadas em Portugal, “revela uma oportunidade significativa para otimizar estas ferramentas de conservação e maximizar o seu impacto na biodiversidade urbana”.
Os investigadores observam que a polinização, “um serviço dos ecossistemas vital, tem recebido uma atenção crescente devido ao reconhecimento do declínio das populações de polinizadores, maioritariamente insetos”.
Os espaços verdes urbanos, como parques e jardins, “são cruciais para a conservação destes insetos, mas o mercado português de misturas de sementes ainda não está alinhado com este objetivo”, avisam.
O estudo indica que apenas uma pequena percentagem (9%) das misturas disponíveis “contém flores silvestres que são verdadeiramente favoráveis aos polinizadores e adequadas para ambientes urbanos”.
Por outro lado, apenas 1% das misturas “são comercializadas especificamente para apoiar polinizadores, refletindo a limitada disponibilidade no mercado, de produtos multifuncionais ou ecologicamente corretos”.
Neste contexto, “misturas de sementes com maior capacidade para estabelecer prados de flores silvestres favoráveis aos polinizadores em espaços verdes urbanos são significativamente mais caras, com preços aproximadamente duas vezes mais altos”.
“Uma escolha criteriosa de espécies nativas é essencial para conservar a biodiversidade e criar espaços urbanos mais sustentáveis”, sustenta a botânica Ana Afonso.
De acordo com a entomóloga (ramo da biologia que estuda os insetos) Sónia Ferreira, Portugal tem “mais de dois milhares de espécies de polinizadores, com distintos tamanhos, adaptações e requisitos” e, “para promover comunidades de polinizadores diversas”, são necessários “espaços verdes urbanos com elevada diversidade de plantas que satisfaçam esses distintos requisitos”.
Os investigadores observam que “outro desafio bastante evidente é a presença de espécies não nativas nas misturas comercializadas”, porque “em média, 14% das espécies das misturas são exóticas e pelo menos 76% das misturas para polinizadores possuem pelo menos uma espécie exótica”.
“A flora silvestre é muito diferente de norte a sul, e uma planta que é nativa no Algarve pode ser considerada exótica no Minho e até tornar-se invasora”, indica Miguel Porto, botânico.
Assim, “seria importante haver regulamentação quanto à região onde cada mistura de sementes pode ser utilizada e desenvolver orientações científicas para a escolha das espécies de uma mistura, tendo em conta a região-destino, colocando restrições a que espécies (nativas) não podem ser usadas em determinadas regiões”.
Para os investigadores, é necessária “uma abordagem integrada que inclua uma seleção criteriosa de espécies nas misturas de sementes, resultando em soluções mais sustentáveis, visualmente atraentes e esteticamente ricas”.