Jaguares e leões mais perto do que se pensava



O Vagalume é um grande leopardo de 94 quilos e 20 anos de idade. Nasceu selvagem, no Mato Grosso, mas vive agora em cativeiro, num jardim Zoológico de São Paulo, e foi o modelo para um estudo que concluiu, pela primeira vez, a sequenciação completa do genoma dos jaguares. “Procurei um animal de cativeiro, para facilitar a recolha de amostras, mas que fosse originário da natureza”, explica Eduardo Eizirik, da Universidade Católica do Rio Grande do Sul, ao jornal Público.

Eduardo Eizirik foi o coordenador deste grande estudo internacional, agora publicado na revista Science Advances, onde participaram cientistas do Brasil, dos Estados Unidos, da Rússia, da Irlanda, de Espanha, da Argentina e também de Portugal, com o geneticista Agostinho Antunes, do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências e do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), da Universidade do Porto. Foi assim que se descobriu que, em tempos, jaguares e leões cruzaram-se, o que permitiu a sobrevivência da espécie.

À primeira vista, um jaguar e um leão não são propriamente parecidos, são ambos grandes felinos, é certo, mas nem sequer partilham o mesmo habitat. O leão vive em África, ainda com uma pequena população na Ásia, e o Jaguar nas Américas, do sul e central. Mas há cerca de 300 mil anos, durante as glaciações, as duas espécies partilharam o mesmo território e nessa altura terá ocorrido aquilo que os cientistas chamam de hibridação (cruzamento entre espécies diferentes). Foi assim que os jaguares ganharam dois genes de leão, responsáveis pelo desenvolvimento do crânio, que podem ter determinado a formação da cabeça robusta e da mordida poderosa desta espécie. “O jaguar tem uma mordida extremamente possante e tem a capacidade de quebrar ou perfurar o crânio de répteis couraçados, como jacarés ou tartarugas. Esta é uma adaptação do jaguar ao ambiente de floresta tropical densa e que lhe permite alimentar-se de jacarés e tartarugas, que não têm muitos predadores” explica o geneticista português ao Público.

Infelizmente, essa mutação não o prepara para a mais recente ameaça à sua sobrevivência, causada como não podia deixar de ser pela espécie humana, que tem vindo a invadir o seu habitat e provocando a desflorestação. Agostinho Antunes avisa que algumas populações já se extinguiram mesmo, porque “tem existido uma grande regressão da espécie. As populações [humanas] têm-se movimentado para zonas bastante arborizadas e isso também torna muito mais vulneráveis as populações de jaguar.” Para a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) o jaguar está classificado como “quase ameaçado”

Foto: Creative Commons





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