Janez Potočnik, comissário europeu: “Vamos rever a nossa legislação de desperdícios”



Há quatro anos que o polaco Janez Potočnik é comissário europeu para o Ambiente, depois de seis anos como comissário para a Ciência e Pesquisa e seis meses como comissário para o Alargamento.

Em entrevista publicada na newsletter do Green Project Awards (GPA) – o Green Savers é media partner do GPA –, Janez Potočnik falou dos objectivos da União Europeia para a eficiência dos recursos naturais e dos desafios ambientais que Portugal enfrenta.

Como é que a Comissão Europeia avalia uma iniciativa como o GPA?
Iniciativas como o GPA ajudam-nos a estabelecer uma ligação importante entre a política Europeia e a realidade no terreno. No Rio de Janeiro, na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável de 2012, os líderes mundiais reconheceram a importância de uma transição global para uma economia verde.

Este foi um primeiro passo muito importante, mas as políticas por si só não serão suficientes. A verdadeira mudança vai depender da participação ativa de todos os intervenientes. O GPA vai exactamente nessa direcção.

Como poderá o GPA contribuir para a mudança de comportamento e mentalidade, cruciais para o desenvolvimento sustentável na sociedade?
A partilha de experiências e melhores práticas é um passo muito importante na construção de um futuro mais seguro e sustentável. Temos de ser mais conscientes sobre o valor dos recursos que são utilizados nos produtos e serviços que usamos. É esperado que a população do nosso Planeta aumente até nove mil milhões até meio do século.

E por volta de 2030 vamos partilhar este Planeta com outros três mil milhões de consumidores que esperarão ter os mesmos níveis de vida que nós temos hoje em dia na Europa. Isto colocará ainda mais tensão sobre os já frágeis recursos dos quais dependemos. Se continuarmos assim, por volta de 2050, vamos precisar de três vezes mais recursos do que os que utilizamos.

Os projectos que promovam o desenvolvimento sustentável contribuem para informar e consciencializar sobre a complexidade dos desafios que enfrentamos e podem também ajudar a encontrar soluções globais.

Quais são os principais objectivos da União Europeia para a eficiência dos recursos naturais?
A eficiência dos recursos é uma ferramenta que nos irá ajudar a alcançar uma economia verde sustentável. É uma parceria entre o ambiente, os negócios e a sociedade.

É claro que o modelo de crescimento intensivo dos recursos ao qual nos acostumámos não pode ser alargado à população global. Temos de reconsiderar a forma como as nossas economias funcionam.

Em conjunto com os meus colegas, tenho vindo a trabalhar para fazer do capital natural e do uso eficiente dos recursos parte central do pilar da estratégia de crescimento da União Europeia, integrando-os em todos os sectores chave, da agricultura, passando pela pesca até ao processo de coordenação económica. Pusemos em prática políticas e acções que procuram fazer da economia verde uma realidade tangível.

Pode dar-nos exemplos concretos?
Vamos rever os objectivos da nossa legislação de desperdícios e direccionarmo-nos para a alimentação e habitação sustentável. O nosso objectivo é abandonar o actual modelo económico no qual extraímos, manufacturamos, usamos e deitamos fora; e movermo-nos em direcção a um modelo económico, no qual transformamos aquilo que hoje denominamos por desperdício, trazendo-o de volta para o ciclo de produção.

Usar e reutilizar inúmeras vezes. Isto é aquilo a que nós chamamos uma economia circular eficiente dos recursos, a verdadeira essência da economia verde.

Quais são os maiores desafios ambientais que países como Portugal enfrentam hoje em dia? E como vê esta situação nos próximos 50 anos?
Portugal precisa de empregos e de investimento, mas esses empregos não surgirão simplesmente pelo retroceder das garantias ambientais. As empresas têm de perceber que o ambiente e a economia são dois lados da mesma moeda e que a protecção ambiental em si mesma pode criar novos empregos e riqueza.

O mundo em que vivemos tem limites naturais e nós temos uma quantidade limitada de recursos à nossa disposição. Temos de trabalhar com a natureza, não contra ela, pois essa é a única forma de enfrentarmos desafios, tais como a mudança climática e a segurança alimentar. Essa é a forma mais fiável de sairmos desta crise económica e definirmos um caminho sustentável para o crescimento a longo prazo.

As decisões futuras sobre questões como a energia e o desenvolvimento do turismo terão de ter uma preocupação com o ambiente. O mesmo se deverá aplicar ao sector marítimo, tão importante para Portugal – tem de ser expandido de uma forma inteligente. A Europa tem o objectivo de elevar os seus mares a um bom estatuto ambiental até 2020 – por uma simples razão: é a melhor forma de proteger a base de recursos da qual a economia e a actividade sociais relacionadas com o mar dependem.

Foto: FriendsofEurope / Creative Commons





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