Jogos, objetos de decoração e até um candeeiro: EPAL junta-se a instituições de solidariedade social para dar nova vida a ‘resíduos’ de merchandising
A economia circular é um dos principais pilares do Pacto Ecológico Europeu. Além de reduzir a pressão sobre os ecossistemas e a destruição dos habitats para a extração de matérias-primas virgens, esse modo de produzir e de consumir, ao contrário da sua versão linear, que é a atualmente dominante, ajuda também de combater a geração de resíduos, uma vez que materiais e produtos que se poderia achar terem chegado ao fim das suas vidas úteis são reconvertidos para dar origem a novos produtos.
Foi essa a razão que levou a EPAL a criar o projeto ‘Make a Circular Wave’. Apresentada esta segunda-feira, no Museu da Água, em Lisboa, a iniciativa pretende ser uma forma de conjugar da melhor forma as três vertentes da sustentabilidade: Economia, Sociedade e Ambiente.
Tudo começou quando, em 2019, a entidade lançou à ETIC – Escola de Tecnologias, Inovação e Criação o desafio de os alunos, no âmbito das suas unidades curriculares, criarem designs que permitissem transformar material de merchandising da EPAL, como panfletos, lonas, livros e outros, em novos produtos, como baralhos de cartas, lápis, cadernos e até um candeeiro na forma do célebre ‘Quantos queres?’.
Ao fim de seis meses, desse ‘concurso de ideias’ foram selecionados alguns desenhos, que, conjuntamente com os materiais foram depois passados a instituições de solidariedade social. Nesta primeira fase do projeto, a empresa do Grupo Águas de Portugal contou com a participação da CAIS Porto, da CERCI Lisboa e a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa (APCL).
Os utentes dessas instituições foram, realmente, os ‘artífices’ que deram origem aos vários novos produtos feitos a partir de ‘velhos’ materiais, entre eles contam-se baralhos de cartas, tabuleiros de xadrez e de damas, candeeiros e jogos de memória, todos eles provas de que reduzir os resíduos é possível, basta para tal alguma criatividade e uma dose indispensável de vontade.
Os representantes das três instituições de solidariedade social destacaram que o envolvimento dos seus utentes, muitos deles em situações de grande fragilidade social e financeira e outros que portam deficiências visuais e intelectuais, foi fundamental para trabalhar capacidades que podem depois ser transferidas para o mercado de trabalho.
Para Marcos Sá, diretor de comunicação e educação ambiental da EPAL, o projeto ‘Make a Circular Wave’ pretende “mudar o paradigma do merchandising”, com o reaproveitamento de todo o material excedente, aliando a sustentabilidade à responsabilidade social.
Na sessão de apresentação esteve também presente a Secretária de Estado da Inclusão, Ana Sofia Antunes, que salientou que é possível promover a redução dos resíduos, combater a degradação ambiental e impulsionar a solidariedade social para que seja o mais inclusiva possível.
“Estes projetos permitem contribuir para criar motivação, autoestima, força de vontade e contribuir para um papel mais ativo de organizações de inclusão social”, explicou.
Marcos Sá assevera que, através deste projeto, foi “possível dar uma nova vida e utilidade ao desperdício, criando novos produtos sustentáveis e exclusivos da EPAL”, concretizando o ciclo da economia circular, valoriza a sustentabilidade ambiental e aposta no talento dos jovens”.
Numa altura em que se fala de Portugal não ser capaz de alcançar as metas de redução de resíduos que tinha definidas para 2035 e em que, segundo o relatório ‘Circularity Gap’ da Deloitte, que revela que entre 2018 e 2023 a taxa de circularidade a nível global caiu de 9,1% para 7,2%, usar o que temos da melhor forma possível surge como fundamental para atenuar a pressão sobre a Natureza, a biodiversidade e, claro, o planeta, ameaçado pelos atuais modelos de produção e de consumo que operam sobre a ilusão de que os recursos são infinitos.
José Sardinha, presidente do conselho de administração da EPAL, afirmou que o projeto contribui para a “forte aposta na circularidade dos recursos” da empresa e declarou que “se cada um de nós der o nosso contributo, as coisas grandes, que parecem grandes para cada um de nós, tornam-se viáveis”, entre elas a circularidade da economia e um novo ‘saber fazer’ que se coloque em linha com a proteção do planeta e com o futuro de todos.