José Mendes, vice-reitor da Universidade do Minho: “[Braga] terá um futuro risonho”



“O ecossistema de inovação e empreendedorismo da Universidade do Minho inclui um universo de 120 empresas, que empregam mais de 2.000 pessoas e geraram em 2010 um volume de negócios de cerca de €360 milhões”. As palavras são de José Mendes, vice-reitor e responsável pelas áreas de Inovação & Empreendedorismo da Universidade do Minho.

Numa entrevista exclusiva ao Green Savers, o responsável abordou os projectos de inovação da universidade, o investimento em start ups e a relação entre a academia a região. “[Braga] tem um potencial muito interessante e um futuro risonho. Assim as políticas públicas o permitam”.

A Universidade do Minho (UMinho) é muito activa nos projectos relacionados com a inovação na sustentabilidade. A que se deve a aposta tão grande nesta área?
A inovação e o empreendedorismo estão no ADN da UMinho desde a sua criação. Tipicamente, a Universidade aposta na inovação de base tecnológica. O que acontece é que emergiram nos últimos anos sectores como as tecnologias limpas (cleantech), nas quais se expressa muitas das inovações desenvolvidas nesta instituição.

Tenho notado também que há vários projectos de empreendedorismo, normalmente desenvolvidos por ex-alunos da UMinho, que são apoiados por vós (exemplo: Plantit). Como decidem em que projectos investem? Como fazem essa selecção, essa triagem?
O empreendedorismo da UMinho expressa-se de três formas diferentes: o percurso formal de criação de empresas spin-off, a criação espontânea de empresas por membros da comunidade académica e a participação da própria universidade em empresas/fundações/associações. Apenas neste último caso há lugar à participação no capital social por parte da UMinho.

Nos outros casos, há proximidade e apoio da Universidade, por exemplo através de licenciamento de tecnologia patenteada, mas as empresas são detidas pelos alunos, ex-alunos e investigadores. Em todos os casos há lugar a uma avaliação do mérito dos projectos, nomeadamente o requisito de ser assente em conhecimento.

Para além da Plantit, que outros projectos foram ajudados pela UMinho nos últimos anos? E qual o total do investimento?
O ecossistema de inovação e empreendedorismo da UMinho inclui um universo de 120 empresas, que empregam mais de 2.000 pessoas e geraram em 2010 um volume de negócios de cerca de €360 milhões. O apoio da Universidade não está quantificado porque é normalmente indirecto, através de acesso ao conhecimento e à incubação.

Como decorre, normalmente, este processo? É o empreendedor que vai ter com o UMinho? Que critérios tem de preencher?
Normalmente o empreendedor apresenta o seu projecto de empresa à TecMinho, que é a interface universidade-indústria detida pela UMinho, a qual mediante avaliação lhe atribui o estatuto de empresa do ecossistema de inovação e empreendedorismo da Universidade do Minho.

Para a UMinho investir num projecto destes, é obrigatório que o empreendedor tenha sido aluno da universidade?
A UMinho não investe directamente. Nos casos em que presta apoio, o empreendedor tem de ser estudante ou investigador da Universidade.

Qual a importância da sustentabilidade e dos projectos relacionados com o desenvolvimento sustentável para a UMinho?
A própria Universidade mantém um programa de eficiência energética e patrocina estudos de avaliação da qualidade de vida nos campi de Braga e Guimarães.

A UMinho tem ganho um grande mediatismo a nível nacional, ocupando um lugar, em termos de inovação, até agora detido pelas universidades de Lisboa, Coimbra e Aveiro. Esta afirmação está correcta? A que se deve esta emancipação nacional?

Não é correcto que as universidades de Lisboa, Coimbra ou Aveiro detivessem lugares de maior destaque nacional em matéria de inovação e empreendedorismo. De forma nenhuma. A UMinho é pioneira em Portugal na actividade de transferência de tecnologia, detendo a mais antiga estrutura autónoma para o efeito. É actualmente a Universidade que mais receitas gera em matéria de licenciamento e venda de patentes.

Se considerar, por exemplo, o Concurso Nacional de Inovação do BES, o mais importante em Portugal e que é aberto a universidades, inventores e empresas, sem restrições, verifica que a UMinho tem exercido uma presença dominante: em sete anos foi por duas vezes vencedora do Grande Prémio (duas últimas edições) e venceu o prémio sectorial por dez vezes.

Acresce que as duas maiores transacções de startups tecnológicas que aconteceram em Portugal tiveram origem na UMinho: a Enabler, que foi comprada pela indiana Wipro; e a Mobicomp, que foi comprada pela americana Microsoft.

Onde vê a UMinho, ao nível do empreendedorismo e inovação, dentro de 10 anos?
A UMinho continuará a enriquecer o seu ecossistema de inovação e empreendedorismo e espera manter na próxima década o papel de líder que já conquistou.

Com a cidade de Braga a afirmar-se como um pólo tecnológico e de inovação – entre outros – como podem a região e os seus habitantes ganhar com este florescimento? Ou seja, como pode a UMinho contribuir para o desenvolvimento e retenção de talentos na região e garantir mais emprego qualificado aos seus habitantes?
A combinação de população jovem, formação em todas as áreas do conhecimento (da medicina às engenharias, humanidades e artes), a presença de mais de 1.000 doutorados, um tecido empresarial muito dinâmico e inovador e aquele que é provavelmente o melhor programa de empreendedorismo do país confere à região um potencial muito interessante e um futuro risonho. Assim as políticas públicas o permitam.





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