Juncker e outras personalidades da UE criticam sustentabilidade atual do projeto europeu
Um grupo de antigos legisladores da União Europeia (UE), entre os quais Jean-Claude Juncker, criou um manifesto onde apontam críticas à sustentabilidade socioeconómica e política do projeto europeu “num mundo caracterizado por guerras ‘quentes’ e ‘frias’”.
De acordo com um documento a que a Lusa teve acesso, subscrito, entre outros, pelo antigo presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker e pela antiga eurodeputada socialista Maria João Rodrigues, “está a surgir uma nova ordem mundial e, se a UE permanecer um projeto inacabado, não vai desempenhar um papel a moldá-la”.
No horizonte está a guerra sem fim à vista na Ucrânia e a crispação das relações diplomáticas entre os Estados Unidos da América (EUA) e a China, advertiram os subscritores do manifesto.
“A UE tem de ser esforçar para dar uma hipótese ao multilateralismo e evitar a lógica pura do poder nas relações internacionais que farão com que piore”, acrescentaram.
Os subscritores do manifesto defenderam que o bloco político-económico tem de fazer a reconciliação entre os objetivos dos 27 e os globais, e que os líderes europeus têm reconhecer que “o modelo socioeconómico, institucional, e, por último, político não é sustentável num mundo pós-pandemia caracterizada por guerras ‘quentes’ e ‘frias’”.
Em primeiro lugar, dramatizaram, é necessário olhar “para as estradas que não podem ser atravessadas”: “A negação das alterações climáticas, a visão míope o mercantilismo de retaguarda, as tentações do protecionismo tecnológico […], as sirenes da autocracia demográfica, e fazer outsourcing da defesa e segurança levariam à ruína da UE.”
Com os líderes europeus em contrarrelógio para fechar as negociações sobre as migrações, os subscritores deste manifesto não esqueceram a temática que é um braço-de-ferro entre os países que propõem uma UE mais solidária e outros, como Itália e a Hungria que querem diminuir essa ‘bandeira’ europeia.
“Para fazer face com eficácia ao desafio das migrações, tem de ser estabelecida uma nova relação entre a UE e África. Tem de estar baseada em acordos de cooperação que não possam ser reduzidos à limitação da partida de migrantes, e um novo modelo de inclusão criado nos Estados-membros, especificamente através da educação, competência e oportunidades de emprego”, sugeriram.
E para os antigos legisladores e personalidades com preponderância no panorama europeu, revitalizar a UE é evoluir para um “federalismo gradual e pragmático”.
Para isso delinearam sete elementos deste modelo de federalismo que inclui a dotação de um orçamento da UE robusto e permanente que tenha em consideração a necessidade de alocar “fundos estáveis” para a reconstrução da Ucrânia depois da guerra – o país é candidato à adesão desde 2022, assim como uma alteração da política industrial baseada na inovação e autonomizar a segurança tanto quanto possível, não dependendo apenas da parceria com a Aliança Atlântica – protegendo a UE de “tendências isolacionistas nos EUA depois das eleições de novembro de 2024.
Também subscrevem o manifesto o antigo presidente do Conselho Europeu Herman Van Rompuy, antigos comissários europeus como Laszlo Andor e Erkki Liikanen, os antigos primeiros-ministros de Itália Giuliano Amato e Romano Prodi, assim como economistas e académicos de vários Estados-membros.