“Justiça climática”: Centenas de cientistas e ativistas bloqueiam terminais de jatos privados em 11 países, incluindo Portugal



Proibir as viagens de jatos privados, taxar quem mais voa e obrigar quem mais polui a pagar pelos danos ambientais causados são as principais reivindicações de cerca de 200 ativistas e cientistas que ontem, dia 14, protestaram em aeroportos por todo o mundo.

A mobilização internacional aconteceu no âmbito da campanha ‘Make Them Pay’, ou ‘Vamos fazê-los pagar’, em português, promovida pelas organizações Scientist Rebellion, Extinction Rebellion e Stay Grounded.

Os 16 protestos aconteceram em 11 países, como na Bélgica, na Nova Zelândia, no Reino Unido, na Suécia, na Austrália, nos Estados Unidos, em Itália, em Espanha e também em Portugal. Na manhã do dia 14, dezenas de cientistas e ativistas da Scientist Rebellion Portugal e da campanha Abolir Jatos Privados protestaram no aeródromo de Cascais, onde interromperam a operação dos balcões de atendimento e as máquinas de raios-X com recurso a tinta.

Com eles, levaram uma faixa com a frase “Vosso luxo, nossa sobrevivência”, uma mensagem enviada aos “mais ricos”, que, segundo os manifestantes, são “os mais culpados pela crise climática, que usam o sei poder para bloquear soluções reais”.

Carolina Falcato, porta-voz da Abolir Jatos Privados, afirma, em comunicado, que “uma viagem de jato privado custa milhares de euros, e emite mais CO2 que uma família média portuguesa num ano inteiro”. Para a ativista, essa “é a forma mais rápida e injusta de queimar combustíveis fósseis”, pelo que “não podemos permitir que um grupo minúsculo de ultra-ricos privilegie o seu luxo, e ponha em causa o nosso presente e futuro”.

Por sua vez, Sara Gaspar, cientista da Scientist Rebellion, aponta que “viajar em jatos privados é completamente imoral e inapropriado durante a crise climática que estamos a viver”.

Os ativistas portugueses asseguram que depois de “inutilizarem” os espaços com tinta, abandonaram as instalações do aeródromo de Cascais “calma e ordeiramente”.

“Tentámos de tudo. Petições, negociações, manifestações e ações simbólicas. Em vão”, escreve a Scientist Rebellion Portugal no Twitter. “Temos de sair dos nossos espaços de trabalho e disromper com esta normalidade que nos condena. É a única opção que nos resta”, argumenta.

Lá fora, as ações de protesto passaram pelo bloqueio de pistas de aeroportos que servem jatos privados, juntando cientistas e ativistas que, unindo vozes, clamaram pelo fim das viagens privadas.

Peter Kalmus, cientista da NASA e membro da Scientist Rebellion, argumenta que “não podemos permitir que os ricos sacrifiquem o nosso presente e o nosso futuro pelos seus estilos de vida luxuosos”.

As ações passaram também pelo bloqueio das entradas de aeroportos e de autoestradas e por impedir a circulação de comboios de transporte de combustível para aeronaves. De acordo com informações dos organizadores internacionais, “alguns manifestantes foram detidos e depois libertados, ao passo que muitos outros tenham sido identificados pela polícia”.

Explicam os ativistas que os jatos privados são maioritariamente usados para viagens recreativas e de curta duração, frequentemente para percorrer distâncias inferiores a 500 quilómetros, que poderiam ser feitas através de comboio.

Os jatos privados, segundo as suas contas, consomem 10 vezes mais combustível do que os aviões comerciais e 50 vezes mais do que os comboios. Uma viagem de quatro horas por jato privado emite tanto dióxido de carbono quanto a média emitida por uma pessoa durante um ano inteiro.

Os manifestantes dizem que combater as viagens por jatos privados é uma questão de “justiça climática”, uma vez que “1% da população global produz mais de metade das emissões totais da aviação, enquanto 80% da população mundial nunca andou sequer de avião”.

Sarah Campbell, da secção neozelandesa da Extinction Rebellion, sublinha que “os combustível da aviação e os passageiros frequentes deveriam ser taxados e as verbas desse imposto deveriam ser usadas para financiar transportes públicos acessíveis para todos e para compensações climáticas àqueles mais afetados pela crise climática, que são também os menos responsáveis”.

São esperadas mais ações de protesto “nos próximos meses”, que os ativistas dizem serem necessárias para pressionar “principalmente nas elites, para lidar com estas desigualdades de uma vez por todas”.





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