Lagartos raros atrasam projecto ferroviário na Alemanha



A linha de alta velocidade Estugarda-Ulm faz parte do S21, um ambicioso projecto ferroviário muito controverso na Alemanha devido a inúmeros atrasos e desvios orçamentais, que nos últimos dias voltou às páginas dos jornais, mas desta vez por um motivo que tem tanto de nobre como de caricato.

É que foram descobertas duas espécies raças raras de lagartos ameaçados – o Lacerta agilis, ou lagarto de areia, e o Podarcis muralis ou lagartixa-dos-muros – numa área onde estão a decorrer trabalhos desta obra orçamentada em 6,5 biliões de euros e com data de conclusão prevista para 2021.

Ora, a legislação ambiental da União Europeia determina que todos os lagartos cujos habitats sejam afectados ou destruídos por trabalhos de construção devem ser realojados em local adequado, o que significa que cerca de 6.000 répteis terão que ser transferidos para uma nova “casa”.

As obras foram interrompidas no local e os trabalhos só recomeçarão quando todos os animais forem recolhidos e realojados. De acordo com a empresa de transportes Deutsche Bahn, a população de lagartos já contribuiu para um atraso de 18 meses e o projecto de conservação da natureza já custou 15 milhões de euros, ou seja, cerca de 2.000 € por lagarto.

E, segundo reportagem do jornal The Telegraph, mesmo o realojamento dos lagartos não está livre de controvérsia. Estes répteis precisam de pedras nas quais possam tomar banhos de sol e areia para colocar os ovos. Acontece que o local encontrado – o parque Killesbert, em Estugarda – não parece encontrar consenso entre a população que manifestou indignação face aos planos de despejar 15 mil toneladas de calcário sobre uma paisagem bucólica, feita de campos verdejantes e muitas árvores. E também têm sido levantadas questões sobre a organização e a eficácia dos esforços de conservação.

“A conservação das espécies não custaria muito se tivesse sido abordada antecipadamente”, veio dizer Johannes Enssle, presidente da União de Conservação da Natureza e Biodiversidade (NABU), ao jornal The Local. Mas, para o ministro-presidente do estado de Baden-Württemberg, Winfried Kretschmann, que também é o primeiro ministro-presidente do Partido Verde da Alemanha, a linha de fundo é a conservação de animais: “O que seria desproporcional, seria erradicar duas espécies inteiras”.

Foto: Wiki Commons





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