Lançar foguetões para o Espaço pode ameaçar recuperação da camada de ozono



Nos últimos cinco anos, o número de lançamentos de foguetões para o Espaço aumentou de uma média de 90 por ano para 190, ocorrendo sobretudo no hemisfério ocidental. E tudo indica que serão ainda mais no futuro, à medida que as previsões apontam para um crescimento rápido da indústria espacial.

Mas a nossa sede de descobrir os mundos que se escondem na vastidão do Espaço poderá por em risco a vida no pequeno e frágil planeta azul a que chamamos ‘casa’, e que, pelo menos por agora, é a única que temos.

De forma simples, a camada de ozono é um escudo gasoso que protege a Terra e toda a vida nela contida das radiações perigosas emitidas pelo nosso sol, refletindo, por exemplo, grande parte da radiação ultravioleta de volta para a grande escuridão sideral.

Nas décadas de 1980 e 1990, essa camada estava gravemente deteriorada, devido à ação de químicos, como os clorofluorcarbonetos, que causaram ‘buracos’ nesse escudo. Perante os perigos que a falta dessa proteção representava, os governos de todo o mundo juntaram-se e coordenaram esforços para reverter os danos que causámos à camada do ozono, tendo sido assinado o Protocolo de Montreal para regular o consumo de produção de uma centena de substâncias nocivas para a camada de ozono.

E essa cooperação deu frutos, uma vez que as Nações Unidas informaram no passado mês de janeiro que tudo indica que a camada de ozono recuperará totalmente dentro de 40 anos.

Contudo, essa projeção pode ser mera ilusão, pois um grupo de cientistas da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia, alerta que as quantidades de gases e partículas emitidas pelos lançamentos de foguetões deverão ser cada vez maiores, à medida que a indústria aerospacial e os programas espaciais dos países crescem.

“Estima-se que o impacto atual na camada de ozono dos lançamentos de foguetões seja pequeno, mas tem o potencial para crescer à medida que as empresas e nações desenvolvem os seus programas espaciais”, prevê Laura Revell, principal autora do artigo publicado na revista ‘Journal of the Royal Society of New Zealand’.

“A recuperação da camada de ozono tem sido uma história de sucesso”, assinala a cientista, apontando que devemos manter-nos nessa trajetória positiva e tomar as medidas necessárias para assegurar que o aumento previsto para o número de lançamentos anuais de foguetões não coloque em risco o escudo protetor da Terra.

Dizem os autores que atualmente o combustível usado atualmente nos foguetões, que contém cloro, carvão negro e óxidos de azoto, não está regulado e falta muita informação. Por isso, instam as empresas da indústria aeroespacial a medirem as emissões dos foguetões durante as fases de teste, a tornarem esses dados públicos para que os investigadores possam estudá-los e que passem a ter em conta a camada do ozono no desenho e desenvolvimento dos foguetões, para que possam ter os menores impactos possíveis.

Michele Bannister, outras das autoras do artigo, diz que reduzir os impactos dos lançamentos dos foguetões na camada de ozono requer “coordenação entre empresas aerospaciais, cientistas e governos” e que é algo “alcançável”, desde que comecemos agora.





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