Liga-Ação: A nova plataforma que pretende levar Portugal rumo ao desperdício zero é hoje lançada



Com a ambição de ser um espaço digital de todos e para todos e uma ferramenta que acelere e facilite a transição para uma sociedade mais consciente e sustentável, a Liga-Ação é lançada hoje como uma plataforma digital de gestão de comunidades dedicada à redução do desperdício. Pretende juntar organizações e cidadãos dos vários setores da sociedade civil portuguesa para criar uma rede de colaboração, capacitada para influenciar processos de decisão pública e motivar mudança política em direção a um futuro mais sustentável e regenerativo. Trata-se de uma iniciativa em consórcio entre a associação Zero Waste Lab, a Circular Economy Portugal, a Maria Granel e a FOE Norway, aliando o movimento lixo zero, economia circular e o granel. Em entrevista à Green Savers, Sara Morais Pinto, co-fundadora da Zero Waste Lab e coordenadora do Liga-Ação, explica como surgiu o projeto e quais os seus objetivos.

Sara Morais Pinto, co-fundadora da Zero Waste Lab e coordenadora do Liga-Ação

Como é que surgiu a ideia desta plataforma digital?

Na verdade, é algo em que já andamos a pensar há algum tempo, a constatação da oportunidade do que seria se uníssemos todos os movimentos nacionais, pontuais, ativistas, organizações em prole de medidas de ação de maior impacto para uma sociedade sem lixo, sem desperdício.

Esta ideia acompanhou os fluxos da utilização das tecnologias, pelas novas formas de comunicação e de trabalho, onde de facto o digital pode ser um bom complemento.

Pretendeu-se assim, questionar de que forma o potencial humano existente nacional, ativista, participativo em ações pontuais ou alargadas, circunscritas quer pela sua geografia quer pela sua especificidade, mais organizado ou mais voluntária, poderia ganhar lastro e influência na ação e planeamento das decisões políticas nacionais.

Foi muito importante o impulso do Programa Cidadãos Ativos, da Fundação Gulbenkian e Fundação Bissaya Barreto, que gerem o financiamento do EEAgrants Active citizens fund, abrindo uma call precisamente voltada para a componente: Fortalecer a cultura democrática e a consciência cívica.

Nesta plataforma, parecida com a navegação de uma rede social, vai dispor de ferramentas de participação digital que aumentem o impacto e a visibilidade pela sociedade das iniciativas desenvolvidas. Será uma dinâmica de uma comunidade interessada, o seu impacto e resultados será tanto maior quanto a energia e interesse gerado pelos seus membros.

Quais os objetivos?

A Plataforma Liga-Ação Rumo ao Desperdício Zero tem como objetivo dinamizar a interação e o diálogo entre as várias organizações, movimentos formais ou informais, cidadãos interessados na temática, facilitando a partilha de recursos (webinar, relatórios, legislação) para reforço do desenvolvimento de conhecimentos coletivos, parcerias e sinergias, promovendo o desenvolvimento e implementação conjuntas de iniciativas públicas, como sejam as campanhas de prevenção do desperdício e economia circular.

E não só, a Liga-Ação, pretende ainda promover a capacidade de intervenção e influência das entidades da sociedade civil nos domínios da transição socioambiental e sustentabilidade, facilitando o diálogo estruturado entre os atores da sociedade civil e os decisores de política pública.

Nesta plataforma, parecida com a navegação de uma rede social, vai dispor de ferramentas de participação digital que aumentem o impacto e a visibilidade pela sociedade das iniciativas desenvolvidas. Será uma dinâmica de uma comunidade interessada, o seu impacto e resultados será tanto maior quanto a energia e interesse gerado pelos seus membros.

De que forma é que a plataforma alia o movimento lixo zero, a economia circular e o granel?

Todas essas áreas mencionadas integram várias perspetivas de ação. São muito abrangentes na sua intervenção, e motivação de mudança e paradigmas para melhores políticas de valorização dos recursos naturais e materiais.

De facto, esta aliança entre lixo zero, granel e economia circular une-se pela sua visão comum quando falamos no repensar do ciclo de vida dos materiais, no ciclo de produção e logística de proximidade, quando repensamos no ciclo do consumo o descarte do “lixo”. Todas estas abordagens pretendem sociedades mais regenerativas, lógicas, saudáveis, solidárias e inclusivas.

Em Portugal, o Relatório Anual de Resíduos Urbanos de 2020 revela: cada português produz, em média, 1806 kg de resíduos por ano; apenas 8,9% dos resíduos urbanos são reciclados; enquanto 64% dos resíduos urbanos são encaminhados para aterro e, por fim, somente 7,2% dos resíduos urbanos são compostados. Como é que altera esta realidade? De que forma pode esta plataforma ajudar?

Pretende-se que esta plataforma também crie propostas concretas para influenciar políticas e comportamentos dos portugueses. Dependendo da força, foco, capacidade de cooperação e mobilização entre os membros, existirão várias iniciativas em concreto a envolver a sociedade civil e política.

Em concreto, a Zero Waste Lab está a desenvolver com um grupo de trabalho liderado pela Circular Economy Portugal, um documento político para ser entregue à assembleia da república relativamente à reparação e reutilização. Está também a ser organizado a campanha relativo à venda a granel, quer seja pelo lado do consumo mais consciente, quer seja por uma campanha com propostas concretas de alteração da legislação portuguesa. Este grupo de trabalho será liderado pela Eunice Maia, da loja Maria Granel.

Todas as áreas que se ligam ao desperdício zero, organizam-se como uma romã. Cada grão tem a sua especificidade, dentro da complexidade de grandes áreas com outros tantos grãos da romã. A venda a granel está ligada a alimentação, e por consequência ligado ao ciclo de produção, a logística, geografia, sazonalidade, opções de consumo e a sua ideia de redução substancial do uso de embalagens de utilização única.

De que forma é que o granel é uma ferramenta de ação climática?

Posso dar a minha perspetiva, mas haverá parceiros que podem complementar esta visão particular. Estava a pensar de como todas as áreas que se ligam ao desperdício zero, organizam-se como uma romã. Cada grão tem a sua especificidade, dentro da complexidade de grandes áreas com outros tantos grãos da romã. A venda a granel está ligada a alimentação, e por consequência ligado ao ciclo de produção, a logística, geografia, sazonalidade, opções de consumo e a sua ideia de redução substancial do uso de embalagens de utilização única. Neste sentido a promoção das condições para a venda alargada de produtos a peso, incentivar o consumo consciente, sustentável, amigo da economia local, promove uma sociedade social e ambientalmente resiliente e sustentável.

Como é que se consegue uma diminuição da extração de recursos, prevenção de danos ambientais e uma sociedade mais resiliente?

A história da romã, volta à minha cabeça. Problemas complexos, resolvem-se com a complexidade ou diversidade de respostas. Claro, que o contributo da economia circular, pode ser um modelo que prepara uma economia em que as atividades não dependam da extração de matérias-primas virgens e da produção de resíduos. Porém saliento também a importância para os processos regenerativos, e de mudança societal, pelas escolhas disponíveis, pela proximidade, pelos valores e cultura, o que queremos mudar? Como pretendemos trilhar esse caminho? Para a Zero Waste Lab, este é mesmo um ponto nefrálgico enquanto cuidadores interdependentes entre as condições planetárias e as necessidades humanas.

Acredito também em política, independente ou não daquilo que cada um pensa e escolhe enquanto partido, isso terá de se traduzir sempre em governância dos organismos do estado, das empresas, das associações, e o que se consegue alcançar através dos Acordos, Medidas, Planos de Ação, Estratégia Europeias e Nacionais, Objetivos Sustentáveis, etc… estando assim alinhado com o Plano de Ação para a Economia Circular da União Europeia (UE), o Acordo de Paris, a Estratégia de Política Industrial da UE, e os Objetivos da Agenda de Desenvolvimento Sustentável 2030 das Nações Unidas.

Como é que esta plataforma se distingue de apps e sites para combater o desperdício de comida como o Unidos Contra o Desperdício, a Olio, a Phenix, Good After e a NoWaste?

A plataforma Liga-Ação congratula todas essas iniciativas e aplicações, fazem mesmo sentido. O que deixo aqui, é o convite a serem membros ativos na liga-ação, para que juntos possamos encontrar oportunidades de ampliação para o cumprimento da sua missão. Esta plataforma, não serve exclusivamente a sensibilização e ajuda a como melhorar o encaminhamento e posterior valorização dos materiais/resíduos. É uma plataforma que une visões e causas comuns com o fim último de influenciar políticas publicas e ativar a participação da sociedade civil na resolução de problemas, rumo ao desperdício zero. Como um zoom de uma lente, que visualiza o particular para uma visão macro e estrutural da sociedade.

A Zero Waste Lab está longe de cumprir a visão de sociedades sem lixo. Portugal, tem muito que caminhar a par com o “mundo das regras humanas”. No entanto, acreditamos no futuro, só temos esse caminho nas nossas mãos, num compromisso ativo, critico e afetivo dentro do ecossistema planetário.

 No manifesto ZWL dizem que acreditam que cada um de nós pode fazer a diferença na transição para um futuro sem lixo. A Zero Waste Lab existe desde 2017. Como é que estávamos nessa altura e como estamos hoje em dia?

Infelizmente, ainda estamos por cá (riso da entrevistada Sara). A Zero Waste Lab está longe de cumprir a visão de sociedades sem lixo. Portugal, tem muito que caminhar a par com o “mundo das regras humanas”. No entanto, acreditamos no futuro, só temos esse caminho nas nossas mãos, num compromisso ativo, critico e afetivo dentro do ecossistema planetário.

 

 





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...