Limpeza de poluição petrolífera no Delta da Nigéria deverá custar 11 mil milhões de euros
O custo da limpeza da poluição causada por décadas de exploração petrolífera no Estado de Bayelsa, no sudeste da Nigéria, está estimado em mais de 11 mil milhões de euros, de acordo com um relatório publicado na terça-feira.
Bayelsa, que faz parte da região do Delta do Níger, rica em hidrocarbonetos, foi o primeiro local onde foi descoberto petróleo em África, na década de 1950. As grandes empresas europeias Shell e Eni operam no país há décadas.
Este estado de dois milhões de habitantes “está a braços com uma catástrofe humana e ambiental devastadora”, refere o relatório, resultado de mais de quatro anos de investigação de uma comissão criada pelo governo local e constituída por um painel internacional de peritos.
“A região, que outrora albergou um dos maiores mangais do mundo (…) é hoje um dos locais mais poluídos”, pode ler-se no relatório, que aponta para “falhas sistémicas” dos operadores, do Estado e da classe política do país.
A investigação de quatro anos foi coordenada pela Comissão Ambiental do estado de Bayelsa, com o apoio de peritos internacionais. De acordo com o relatório, todo o Delta do Níger tem sofrido todos os anos, nos últimos 50 anos, o equivalente ao derrame de petróleo do Exxon Valdez, o petroleiro que causou um dos maiores desastres ambientais da história dos Estados Unidos em 1989.
Com consequências desastrosas para a saúde: cerca de 1.600 resultados de análises ao sangue da população local revelam “contaminação altamente tóxica” e casos generalizados de “queimaduras, problemas pulmonares e riscos de cancro”.
Segundo a comissão, são necessários pelo menos 12 mil milhões de dólares (11 mil milhões de euros) para “limpar o solo e a água potável, reduzir os riscos para a saúde da população e restaurar os mangais”.
A Comissão pede à Shell e à Eni, que exploram o petróleo há décadas e cujas filiais locais ainda operam na região, que paguem uma parte desse montante.
Contactado pela AFP, o gigante britânico Shell declarou que não tinha visto o relatório e que não podia, portanto, reagir imediatamente às suas conclusões.
A italiana Eni afirmou não ter sido consultada sobre o relatório e rejeitou as alegações da comissão de “racismo ambiental”, assegurando que “conduz as suas atividades em conformidade com as melhores práticas ambientais internacionais do setor, sem distinção de país”.
No passado, ambas as empresas atribuíram repetidamente a maioria dos derrames de petróleo a sabotagem e roubo.