Lívia Tirone: “Ou aprendemos a partilhar conhecimento, ou não vamos a lugar nenhum”
A arquitecta Lívia Tirone, especialista em arquitectura bioclimática, alertou hoje para a necessidade de haver uma “partilha de conhecimento” na indústria da construção, sob pena de ficarmos para trás nesta oportunidade “única” para o desenvolvimento sustentável.
De acordo com a responsável, a construção sustentável é “mais barata” do que se pensa, sendo que as barreiras à sua massificação são sobretudo “culturais e não técnicas”.
“Temos uma cultura que não se coaduna com a sustentabilidade. Ou aprendemos a partilhar conhecimento ou não vamos a lugar nenhum”, explicou a responsável durante a conferência “Desafios e Tendências da Construção Sustentável”, que decorre na FLAD (Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento), em Lisboa, e tem o Green Savers como media partner.
Mais tarde, Lívia Tirone deu um exemplo desta ideia. “Há 50 anos, o arquitecto resolvia todos os problemas dos [dos edifícios e cidades]. Hoje isto não funciona e este é um problema que só se resolve em equipa. Os países do Norte da Europa já perceberam isto há décadas”.
Ainda de acordo com a arquitecta, esta cooperação deverá envolver, por exemplo, entidades como a Nasa. “A Nasa tem várias competências para resolver os problemas do espaço, mas nós precisamos de resolver os problemas daqui, da Terra. A Nasa tem de partilhar esses conhecimentos. Estamos numa década interessantíssima para resolver os nossos problemas. A crise obriga-nos a fazer um esforço e chegou num momento estratégico”, concluiu Lívia Tirone.
Antes, o co-fundador do Living PlanIT em Portugal, Miguel Rodrigues, falou do mediático projecto que prevê a construção de uma cidade tecnológica e sustentável no concelho de Paredes, alertando, porém, que das cerca de 150 pessoas que trabalham no projecto, “apenas quatro ou cinco” são portuguesas.
“Neste projecto falamos de tecnologia. Hoje, a tecnologia é o que nos acelera, e são as empresas tecnológicas que nos invadem cada vez mais”, explicou, realçando o facto de o projecto contar com a parceria de empresas como a Microsoft, Cisco, IBM, Schneider ou General Electric.
Miguel Rodrigues insistiu na pertinência da iniciativa – uns dos mais importantes projectos de investimento estrangeiro em Portugal – e recordou que a indústria da construção “é hoje a mais ineficiente de todas, um problema mundial”.
“Temos de medir os nossos passos, e é nisso que estamos a trabalhar. Por isso, estamos a introduzir sensores que podem ser trabalhados em massa, numa plataforma open source”, revelou o responsável.
Finalmente, também a arquitectura tem de ter a “noção que a sustentabilidade é importante, e tem de ser incluída nos seus projectos”.
“É preciso uma maior eficiência na forma como se pode construir e gerir os edifícios”, concluiu Miguel Rodrigues.