Luís Luz, MyFarm: “Vamos precisar de agricultores e mão-de-obra qualificada para apoiar o nosso crescimento”
Em Abril, o MyFarm deixa a fase de testes e chega finalmente ao terreno, confirmou ao Green Savers o professor Luís Luz – o segundo a contar da esquerda, na foto -, um dos rostos por trás do projecto que está a levar o nome do Instituto Politécnico de Beja a todo o País.
O responsável recordou os primeiros tempos do MyFarm – então conhecido por Horta@ n@ net –, explicou a parte académica do projecto de empreendedorismo e inovação e traçou os próximos passos: exportar o conceito para Évora, Setúbal e Lisboa.
O projecto-piloto já tem 31 pré-inscrições, para um total de 20 parcelas, e numa primeira fase contará com o trabalho dos seus seis responsáveis. Depois, avançará para contratações: “Com a expansão deste projecto pelas zonas urbanas do nosso país vamos de certeza necessitar de mão-de-obra qualificada para apoiar o nosso crescimento”, frisou Luís Luz.
Como surgiu o projecto MyFarm? Qual a pré-história do projecto?
Surgiu de uma iniciativa do IPBeja Empreendedorismo, do qual faço parte. É uma iniciativa levada a cabo em Março de 2011 e que consistiu em me deslocar a aulas onde estavam alunos do 2º e 3º ano das licenciaturas da Escola Superior Agrária (Agronomia, Biologia, Engenharia Alimentar e Engenharia do Ambiente) para desafiá-los a reunirem comigo, de forma informal, num dia por semana, para falar sobre ideias de negócio.
Na primeira reunião surgiram cerca de sete alunos e com eles comecei a trabalhar. Numa primeira fase começámos por listar todas as ideias de negócios existentes nas nossas cabeças. Esgotado esse processo passámos para a fase da selecção. Por essa altura já tínhamos um grupo estável de seis alunos e foi desse grupo que foi seleccionada a ideia de criar uma horta real totalmente gerida na internet. A esse primeiro esboço chamámos Hort@ n@ Net.
Quantas pessoas estão alocadas a este projecto?
Estamos seis pessoas ligadas a este projecto: quatro alunos finalistas em Agronomia, uma aluna finalista em Engenharia do Ambiente e um docente.
Quem trabalha a terra: os responsáveis pelo projecto ou outras pessoas?
Para o projecto-piloto seremos nós, os responsáveis pelo projecto.
Acredita que, no futuro, o MyFarm poderá providenciar postos de trabalho a agricultores desempregados/sem terra?
Sim. Com a expansão deste projecto pelas zonas urbanas do nosso país vamos de certeza necessitar de mão-de-obra qualificada para apoiar o nosso crescimento.
Por ano, quanto poderá custar o MyFarm a um agricultor online?
Trata-se de uma questão difícil de responder, pois cada cyber-agricultor pode cultivar uma variedade de produtos e escolher uma série de opções para o seu desenvolvimento. O que posso afirmar é que tudo iremos fazer para que o custo dos legumes dos nossos clientes seja semelhante aos custos destes quando adquiridos num hipermercado, ou seja, não queremos que os nossos clientes gastem, por ano, mais do que aquilo que já gastariam. Para além destes custos o cliente terá, durante o projecto-piloto, um custo fixo por ano, de €300 (R$727).
Segundo li, a entrada no jogo custa €60 (R$1454) e o aluguer mensal do terreno são €25 (R$60). Mas o utilizador pode comprar mais pontos com dinheiro verdadeiro – €1 (R$2,42) equivale a 10 pontos. Estes pontos servem para quê?
Quando se regista, o nosso cliente tem que comprar 600 pontos, o que equivale a €60 (R$145). Estes 600 pontos serão a base para o nosso cliente começar a construir a sua horta, pois será com eles que irá realizar as primeiras operações. Será através do sistema de pontos que o cliente pagará todas as operações que terá que realizar, assim como o aluguer mensal do serviço. Convém também esclarecer que não se trata de um jogo, trata-se de uma horta real, na qual as pessoas irão receber os seus produtos em casa, sabendo como é que eles foram produzidos.
Depois de terem investido dinheiro na “compra” do terreno e aluguer mensal, os utilizadores têm de pagar a entrega dos produtos? Se sim, há alguma tabela de preços?
Convém esclarecer que os clientes não precisam de investir, no projecto-piloto, na “compra” do terreno, pois os 600 pontos, como referi, servem exclusivamente para dar ao cliente uma carteira de pontos que lhe irão permitir realizar as primeiras operações. Não são pontos que o cliente perde para entrar no sistema.
A entrega dos produtos está incluída nos pontos a pagar pelo trabalho de colheita dos produtos, ou seja, está também incluída no preço total que os legumes irão custar aos clientes.
Quantas inscrições têm até agora?
Para o projecto-piloto temos 31 pré-inscrições, para um total de 20 parcelas.
Dizem também que os clientes podem ver a sua horta 24 horas por dia. Como conseguem assegurar este serviço?
Através de câmaras que irão filmar as hortas dos clientes. Cada horta/cliente terá a sua câmara exclusiva e, através dela, poderá ver, em tempo real e na internet, os trabalhos que nela realizamos e o seu desenvolvimento.
Pelo que sei, o MyFarm está ainda em fase de testes. Quando arrancará oficialmente o projecto?
A sua implementação no terreno será feita durante o mês de Abril, mas apenas para clientes de Beja. Tratando-se de projecto-piloto que queremos aperfeiçoar antes de passar para a expansão para todo o território nacional. O projecto-piloto tem um prazo previsto de 12 meses.
Qual o vosso plano de expansão para Portugal? Já têm alguma novidade sobre este assunto?
Embora muitas das nossas energias estejam direccionadas para a implementação do projecto-piloto, já estamos a preparar a nossa expansão, a qual, na pior das hipóteses, irá ocorrer após o projecto-piloto, ou seja, dentro de 12 meses. Pretendemos iniciar a nossa expansão para a região de Évora e para as zonas urbanas de Setúbal e Lisboa.
Têm tido muita visibilidade nos meios de comunicação social. Estavam à espera de tanta atenção por parte dos media?
Não. Estávamos convencidos que iríamos ter alguma visibilidade, pois trata-se de um projecto inovador, mas não a que estamos actualmente a ter – e a que certamente ainda iremos ter quando efectivamente o projecto-piloto passar para o terreno, durante o próximo mês.
Trata‑se de uma situação que só nos motiva e que também serve para mostrar que o IPBeja é uma instituição dinâmica, sempre pronta para apoiar ideias e projectos inovadores dos nossos alunos
O projecto tem suscitado o interesse de algum patrocinador? Qual?
Sim. Temos já o patrocínio de algumas instituições regionais, nomeadamente da AgroBeja, uma empresa de prestação de serviços na agricultura, e da Plantalgarve, que nos fornece gratuitamente as plantas que iremos usar.
Estamos ainda a negociar com alguns potenciais patrocinadores e esperamos poder ainda surpreender os nossos futuros clientes com algumas boas novidades relativamente às funcionalidades que iremos usar.
O projecto começou no IPBeja. Quais os próximos passos? Poderá autonomizar-se, por exemplo em formato de start-up?
O objectivo do IPBeja neste processo é claro. Pretendemos dar a oportunidade aos nossos estudantes de desenvolverem, com a ajuda dos docentes, e explorarem as suas ideias e de, no caso de se chegar à conclusão de que elas têm potencial de negócio, testá-las no seio do IPBeja, com um projecto piloto. Após este passo, e de sentirmos que o projecto está afinado e pronto para ser usado, [vamos] ajudar os seus promotores a levá-lo para lá das fronteiras do IPBeja. É isto que pretendemos também com este projecto.