Luís Quinta, há 25 anos a fotografar a natureza portuguesa (com ENTREVISTA)



Luís Quinta é um dos nomes mais conceituados da fotografia de natureza, em Portugal, possuindo uma carreira de 25 anos e que já lhe valeu trabalhos publicados em meios como National Geographic, Visão, Grande Reportagem, Volta ao Mundo, Público, Expresso ou Diário de Notícias.

Hoje, o fotógrafo almadense inaugura a sua própria exposição perto de um dos locais onde mais gosta de trabalhar – e que o continua a surpreender pela sua biodiversidade – Almada.

Em entrevista exclusiva ao Green Savers, o fotógrafo fala da sua carreira, das fotos favoritas e como mudou a biodiversidade portuguesa neste quarto de século.

A exposição arranca hoje e é composta por duas secções: Natureza em Portugal, que exibe uma selecção de fotografias tiradas por todo o território português; e Almada, entre o Mar e o Rio, na qual são revelados os momentos naturais da sua amada Almada.

Tem 25 anos de carreira. Que fotos estão mais vivas na sua memória?

Ui! São tantas e tantas imagens. Gosto de muitas que nem fazem parte desta colecção que apresento agora em Almada. Para uma expo completa da minha actividade acho que nem 150 fotos chegavam. Gosto bastante da imagem da cegonha-branca a chegar ao ninho. Algumas de baleias nos Açores. Mas também gosto de algumas imagens feitas aqui no meu “quintal”, nos arredores de casa. Como por exemplo do besouro-joia no Parque da Paz.

Como evoluiu a fotografia de natureza ao longo destes últimos 25 anos?

Com a chegada do digital, a fotografia de natureza deu um grande salto. Essa evolução tecnológica permitiu fazer muitas imagens quase “impossíveis” na era do filme. Ou, pelo menos, eram muito complexas de fazer. Hoje qualquer pessoa com conhecimentos mínimos produz esse tipo de imagens. Falo por exemplo de imagens nocturnas, ou com luz muito escassa. A possibilidade de se ver no segundo imediato o que se fez, dá-nos muitas possibilidades de corrigir erros, evoluir, testar novas abordagens, repetir, tentar melhor.

E como evoluiu a própria natureza neste quarto de século?

Há boas e más notícias. Por um lado as pessoas ficaram mais atentas para muitos problemas ambientais. Por outro lado há cenários que ficaram mais massificados. Mas há muitas espécies que estão a recuperar e a expandir a sua distribuição, bem como outras se encontram à beira da extinção. Para que lado pende a balança, nem sei bem, mas penso que o saldo é positivo.

O Luís, e a sua fotografia, estão intimamente ligados a Almada. Como mudou a cidade nos últimos anos e que fotografias lhe trazem as melhores recordações?

Tenho vivido muitas e boas emoções a fotografar no concelho de Almada. Por diversas razões tenho trabalhado muito na minha área de residência.  Tenho visto muitos animais que não tinha a ideia que existissem por aqui. Descobri, a um quilómetro de minha casa, um casal de águias-de-asa redonda. E a cinco quilómetros outro casal de águias. Vi as maiores cobras que me lembro em estado selvagem em Portugal. Ao largo da Costa da Caparica tenho encontrado várias espécies de golfinhos e muitas aves marinhas lindas.

É notório o empenho da Câmara Municipal de Almada na promoção dos seus valores naturais e, muito importante, em preservá-los. Na realidade, temos cenários naturais e animais muito bonitos, interessantes e relevantes nesta região entre o Tejo e o Atlântico.

Quais os seus locais favoritos do concelho?

Moro na Costa da Caparica e sou um apaixonado por toda esta zona… deste S. João até à Fonte da Telha. Tenho o mar para mergulhar, vastos campos agrícolas, dunas e florestas onde encontro centenas de motivos para fotografar, contemplar e partilhar com amigos.

Trabalhou para a National Geographic. Qual a fotografia que mais o marcou para esta grande marca de natureza e biodiversidade?

Já publiquei tantas e tantas imagens, provavelmente mais de cem fotografias. Gosto de algumas em especial ligadas à geologia, outras ao mar aberto, dos animais que vivem no grande azul, seres lindos e com um desenho perto da perfeição. Baleias, espadins e outros peixes incríveis que vivem nas nossas águas. Curiosamente, uma das imagens mais marcantes que fiz de insectos – e afins – foi captada no Parque da Paz, um casal de libélulas a depositar ovos num plano de água.

Que animais lhe dão mais gozo fotografar? Porquê?

Já me apaixonei por todos, desde as grandes baleias,  passando pelas aves, repteis, até aos minúsculos insectos. Se pudesse escolher um universo para trabalhar seria o dos cetáceos.

Que conselho dá aos jovens que querem seguir as suas pisadas na fotografia de natureza?

Que o sonho é possível, mas para atravessar um grande oceano, incrível, cheio de surpresas, tempestades, é necessário ter barba rija, enfrentar as adversidades e não desistir. Mais do que conselhos técnicos, receitas estratégicas, o importante é trabalhar com convicção, sentir que está na área em que possui maior vocação e lutar.

É possível viver apenas desta arte?

É possível, mas é necessário muito trabalho e saber crescer. Eu vivo só da imagem de natureza, mas em múltiplas facetas. Dou formação em várias áreas da fotografia de natureza, faço passeios e safaris fotográficos. Trabalho com várias revistas e jornais, agências de imagem de natureza.

Actualmente, filmo para documentários de TV. O meu universo é só imagem de natureza, mas não é fotografar todos os dias em locais fantásticos. Muito do tempo é a editar imagens, vender imagens, reuniões, a dar formação. Além disso, o meu portfólio é muito diversificado, desde baleias a camarões, de águias, a gafanhotos, de cobras a morcegos.

A exposição “Luís Quinta, 25 anos de fotografia”, arranca hoje no Museu da Cidade de Almada e ficará aberta ao público até Outubro. A exposição está integrada na Semana Verde 2013 de Almada.





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