Luís Veiga Martins: “Há uma grande preocupação em facilitar a vida a [quem quer reciclar]”
O director-geral da Sociedade Ponto Verde (SPV), Luís Veiga Martins, admite que o consumidor está “hoje mais sensibilizado” para a reciclagem. Em vésperas do seminário Green Procurement, o responsável falou de inovação no sector da reciclagem e revelou que os “novos empreendimentos urbanísticos” já começam a facilitar a vida a quem tem um papel muito importante na reciclagem: as populações.
A SPV foi a primeira entidade a ser criada, em Portugal, para a gestão de fluxos específicos de resíduos. O que mudou, na mentalidade dos portugueses e nestes últimos quase 15 anos, em relação ao tema da reciclagem?
A Sociedade Ponto Verde foi criada em 1996. Se há cerca de 15 anos a reciclagem estava ainda numa fase muito incipiente, hoje em dia o consumidor encontra-se mais sensibilizado para esta temática O que pode ser constatado pela percentagem de lares separadores (observados): 41% em 2006 e, actualmente, cerca de 2/3 da população separa. Em resultado disso, uma cada vez maior quantidade de resíduos de embalagens é encaminhada para reciclagem.
Ainda que 2/3 da população portuguesa já separe o lixo, estamos longe das taxas de separação de resíduos, por exemplo, dos países nórdicos. Quando chegaremos a esses números?
A evolução da reciclagem em Portugal, relativamente a outros países, tem tido um percurso bastante positivo. Ao abrigo da legislação em vigor, Portugal tem o compromisso de reciclar, até 2011, no mínimo 55% dos materiais de embalagem que são colocados no mercado nacional. A Sociedade Ponto Verde tem de cumprir a mesma meta, mas apenas em relação às quantidades de embalagens declaradas pelos embaladores seus aderentes. A nossa aposta vai continuar a incidir no desenvolvimento de acções que contribuam para o cumprimento dos objectivos traçados e para que os cidadãos estejam cada vez mais sensibilizados para a importância da reciclagem, a nível ambiental, económico e social.
Mas alguma vez chegaremos aos níveis de reciclagem dos países nórdicos?
Acredito que estamos perante uma rotina que cada vez mais está enraizada no dia-a-dia dos portugueses, por isso trata-se de algo que vai ter tendência a crescer. Qualquer dia já estaremos em níveis de reciclagem muito mais elevados e próximos desses países.
Todos os dias nos chegam notícias sobre a inovação na reciclagem: ferramentas que nos permitirão reciclar sem sair de casa (como a que vai ser implementada pela empresa espanhola Ros Roca) ou identificadores nos contentores. Estas ideias são muito futuristas? Ou podemos vê-las, brevemente, em Portugal?
Poderá ser uma questão de tempo até que algumas das soluções que têm vindo a surgir possam vir a ser implementadas em Portugal, sempre que seja possível. Hoje em dia já existe uma preocupação grande em facilitar a vida a quem tem um papel muito importante nesta causa da reciclagem, a população. Em novos empreendimentos urbanísticos algumas soluções já são preconizadas, começando por vezes com algo tão simples como a existência de uma “casa do lixo” e, cada vez mais, condutas próprias para os recicláveis. A partir daqui só há que continuar.
Algumas cidades norte-americanas, como Cleveland, já têm sistemas de identificação magnética nos contentores, permitindo identificar os melhores e piores recicladores. Em que medida estas novas ferramentas permitirão aumentar o número de pessoas a separarem correctamente o seu lixo?
Há uma série de inovações que têm um ponto em comum: a necessidade de se reduzir a produção de resíduos, penalizando quem produz mais. Por outro lado, [é preciso] garantir que é maximizada a fracção reciclável. Se é esta ou outra inovação não será para já relevante, mas sim a preocupação de garantir que o objectivo de redução seja cada vez mais uma realidade.
Costumam trocar informações com os vossos pares internacionais? Sobre que temas?
A Sociedade Ponto Verde é um dos 33 membros da Pro Europe, a organização que encabeça os sistemas de gestão de embalagens e de resíduos de embalagem que usam o símbolo “Ponto Verde”. [Este símbolo] confirma as empresas que contribuem financeiramente para a gestão do resíduo gerado pós-consumo. Como tal, reúne periodicamente com as suas entidades congéneres – e não só. A título de exemplo, em Outubro decorreu a 5ª edição do Congresso Internacional da Pro Europe, que juntou mais de 700 participantes da indústria, instituições e universidades. Um dos principais tópicos de debate centrou-se num dos grandes desafios que esta indústria tem pela frente nos próximos anos: alcançar um standard global do princípio da responsabilidade do produtor.
Para terminar a primeira parte da nossa entrevista: que acções, projectos ou estratégias estão na calha para o médio ou longo prazo?
O grande projecto a médio longo prazo passa pela prorrogação da actual licença, que termina em 2011. [Queremos dar] continuidade à história de sucesso dos últimos 15 anos.