Luís Veiga Martins: “Quero posicionar a Pro Europe como a referência na sustentabilidade ambiental e reciclagem”
Dois dias depois de ter sido nomeado presidente da Pro Europe, o director-geral da Sociedade Ponto Verde (SPV), Luís Veiga Martins, falou com o Green Savers sobre esta nova fase da sua carreira.
Admitindo que não hesitou na hora de aceitar o convite, Luís Veiga Martins afirma que Portugal é um “caso de sucesso em matéria de gestão de resíduos” e que a sua nomeação é prestigiante não só para a SPV como “para o País, dado a importância do fluxo de resíduos de embalagem”.
Uma entrevista – mais uma – exclusiva Green Savers a não perder. Recorde outra entrevista de Luís Veiga Martins ao Green Savers aqui e aqui.
Quando foi convidado para assumir a presidência da Pro Europe?
A minha nomeação decorreu no início de Abril, numa reunião que juntou os 33 membros da Pro Europe, em Roma.
Como decorreu todo este processo? Quem o convidou? Havia outros candidatos?
Em Abril terminava o mandato e conjugado com a reforma do anterior presidente, Henri Meiresonne, fui convidado a assumir a presidência do próximo biénio. Gostava de destacar o excelente trabalho desenvolvido pelo Henri anteriormente.
Hesitou ao aceitar esta proposta, ou viu este convite como uma extensão natural do seu cargo na Sociedade Ponto Verde?
Não hesitei ao aceitar o convite. É uma honra, mas também um grande desafio, estar à frente desta organização, que reúne 33 países e encabeça os sistemas de gestão de embalagens e de resíduos de embalagem que usam o símbolo “Ponto Verde”.
Em termos práticos, como pode a Sociedade Ponto Verde beneficiar deste seu novo cargo internacional?
Para a Sociedade Ponto Verde, a sociedade gestora mais antiga de Portugal, é prestigiante ter o seu director-geral a desempenhar estas funções. O mesmo, eu diria, se aplica ao País dado a importância do fluxo de resíduos de embalagem
E quais as suas prioridades na Pro Europe?
Estou empenhado nesta nova função e motivado para trabalhar de perto com todos os membros da Pro Europe. A organização tem sido uma plataforma essencial para o intercâmbio das melhores práticas e para expandir o conceito de responsabilidade alargada do produtor com o objectivo de se contribuir para uma Europa eficiente na utilização dos seus recursos. Um dos grandes objectivos passa por unir esforços para que a indústria consiga atingir um standard global do princípio da responsabilidade do produtor, 20 anos depois do início da sua implantação. A reciclagem e a gestão de resíduos encontram-se num nível cada vez mais avançado, como resultado de 20 anos de sucesso da implementação do princípio da responsabilidade do produtor.
Por outro lado, pretendo posicionar a Pro Europe como a referência ao nível da sustentabilidade na área ambiental e da reciclagem, com resultados de sucesso comprovados ao nível da reciclagem de embalagens.
A SPV foi elogiada pelo director-executivo da Pro Europe, Joachim Quoden. O que significa, para si, este elogio?
Este é o reconhecimento do trabalho que tem desenvolvido a SPV ao longo dos seus 15 anos de actividade e por ter promovido com sucesso o conceito de responsabilidade do produtor em Portugal. O resultado do nosso trabalho está à vista: a SPV marca hoje presença em 97,4% dos concelhos do País, através das parcerias que mantém com os Sistemas Municipais e Inter-Municipais. Esta é uma marca de qualidade e rigor que queremos manter na nossa actividade. Por outro lado, a Sociedade Ponto Verde era, no final de 2010, a segunda marca, em Portugal associada à responsabilidade ambiental.
O até agora presidente da Pro Europe, Henri Meiresonne, reformou-se. A escolha do Luís quererá, também, dar um sinal de rejuvenescimento e ideias novas ao sector da reciclagem na Europa?
A Pro Europe tem tido sempre a preocupação de acompanhar toda a dinâmica existente a nível ambiental e da reciclagem, pelo que há que dar continuidade ao trabalho que tem vindo já a ser desenvolvido.
Sendo a Pro Europe uma organização europeia, como o próprio nome indica, porque razão o Canadá é membro?
A Pro Europe foi fundada em 1995 e é actualmente constituída por 33 associados de 26 Estados-membros, dois países candidatos (Croácia e Turquia) e, ainda, pela Noruega, Sérvia, Islândia, Ucrânia e Canadá. O conceito da responsabilidade alargada do produtor começa a espalhar-se por outros países fora do continente europeu, tendo em conta a história de sucesso neste continente. Não esquecer que os grandes clientes dos diversos membros da Pro Europe são empresas multinacionais presentes em diversos continentes. Por isso, o nome Pro Europe pode dar uma ideia limitativa em termos geográficos, mas já não o é com a presença do Canadá e não o será certamente no futuro.
A presidência da Pro Europe irá afectar, de alguma forma, o seu dia-a-dia na gestão da Sociedade Ponto Verde?
O grande projecto a médio/longo prazo passa pela prorrogação da actual licença que termina no final de 2011, com o objectivo de dar continuidade a uma história de sucesso que tem sido contada ao longo dos últimos 15 anos. Neste sentido, estamos completamente empenhados neste objectivo, bem como em dar continuidade à missão da SPV, que passa por organizar e gerir o Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens. A Pro Europe tem um director-geral, Joachim Quoden, que tem vindo a desempenhar um papel operacional muito activo e positivo que irá continuar.
Qual a importância da Pro Europe para ajudar a exportar boas práticas – e bons casos de estudo – do sector da gestão dos resíduos e embalagens?
Há 20 anos, a Europa foi pioneira no conceito da responsabilidade alargada do produtor. Empresas de produtos embalados, fornecedores, autoridades públicas, empresas de reciclagem, consumidores e a indústria de gestão de resíduos aprenderam a trabalhar em conjunto. O interesse em optimizar o ciclo de vida de embalagens cresceu rapidamente. Duas décadas depois, o conceito começa a espalhar-se pela América do Norte e Ásia. A Pro Europe tem uma palavra muito importante nesta matéria, sendo um exemplo a seguir. Cerca de 400 milhões de habitantes são abrangidos pela recolha selectiva financiada pelos sistemas membros da Pro Europe, o que é bem elucidativo da importância desta organização.
Ainda recentemente, a Pro Europe organizou um Seminário em Bruxelas sobre a Responsabilidade Alargada do Produtor dirigido a participantes de países não europeus e onde participaram representantes de cerca de 20 países.
Estando Portugal, nos últimos meses, no topo da agenda mediática europeia, nem sempre pelas melhores razões, servirá esta nomeação para reforçar o que de bom se faz neste País, sobretudo ao nível de uma área de tanta importância para o futuro, como a reciclagem e sustentabilidade?
Claramente esta nomeação poderá dar maior visibilidade a Portugal e aí somos um caso de sucesso em matéria de gestão de resíduos. Desde a publicação do PERSU I até aos dias de hoje muito foi feito, não só ao nível de infra-estruturas, mas também ao nível de sensibilização da população e comunidade empresarial. Sem a participação de todos não seria possível a Portugal mostrar a obra feita.
A evolução da valorização dos resíduos através da reciclagem em Portugal relativamente a outros países tem tido um percurso bastante positivo. Podemos estar orgulhosos do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido.
O que diferencia, em termos executivos, o papel do director-executivo da Pro Europe, Joachim Quoden, do seu?
O director-geral da Pro Europe é quem tem o papel operacional no dia-a-dia da vida da Pro Europe.