Luís Veiga Martins: “Conseguimos atingir uma taxa de reciclagem de 74%”



Em 1998, no primeiro ano de funcionamento do SIGRE, a Sociedade Ponto Verde (SPV) enviou 1.495 toneladas de embalagens para reciclagem. No final de 2014, este número chegou às 730.000 toneladas, das quais 419.000 toneladas foram recuperadas no fluxo urbano. “[Este foi] o melhor resultado de sempre desde que a reciclagem de resíduos de embalagens é feita em Portugal”, explicou ao Green Savers o director-geral da entidade, Luís Veiga Martins.

“A SPV, em nome dos seus clientes, conseguiu atingir uma taxa de reciclagem de 74%”, concluiu o gestor que, nesta entrevista, faz um balanço de 19 anos de actividade da SPV e projecta o futuro da entidade e da reciclagem em Portugal.

Como tem evoluído a taxa de retomas em Portugal, de 1998 até aos nossos dias, e quais os grandes desafios para os próximos anos?

Ao longo dos anos tem-se verificado uma evolução gradual e crescente no comportamento dos consumidores em relação à reciclagem. De 1.495 toneladas de embalagens enviadas para reciclagem, em 1998 – o primeiro ano do funcionamento do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens [SIGRE] – passámos para mais de 730.000 toneladas no fecho de 2014, das quais 419.000 toneladas de embalagens recuperadas no fluxo urbano, um valor que se traduziu no melhor resultado de sempre desde que a reciclagem de resíduos de embalagens é feita em Portugal. Desta forma a SPV, em nome dos seus clientes, conseguiu atingir uma taxa de reciclagem de 74%.

O desafio para os próximos anos é que a quantidade de resíduos de embalagens separados aumente e os erros de separação sejam minimizados, para que assim possamos maximizar a valorização de resíduos de embalagem através da reciclagem, ao menor custo. Desta forma, iremos ao encontro das metas propostas no novo Plano Estratégico dos Resíduos Urbanos (PERSU 2020) bem como dos objetivos europeus em matéria de reciclagem e de valorização de resíduos.  

Nos últimos dois anos e meio, a SPV tem feito um grande esforço a comunicar a importância da indústria dos resíduos e reciclagem para a indústria portuguesa e dinamização da economia. Os portugueses já o reconhecem?

Acreditamos que sim. As campanhas desenvolvidas nos últimos anos foram um importante contributo para que ficasse mais claro para os portugueses o impacto dos seus hábitos de separação de resíduos de embalagem, como foi visível na última campanha de televisão, em que foi indicada uma ordem de grandeza desse gesto.

Por outro lado, foi desenvolvido um estudo em que se quantificava mais uma vez os impactos sócio-económicos e ambientais da reciclagem de embalagens. A título de exemplo, a gestão dos resíduos de embalagens no âmbito do SIGRE encontra-se entre os ramos de actividade com maior efeito multiplicador na economia. Por cada euro investido no mercado nacional pelo SIGRE, são gerados €1,25 euros de valor acrescentado no resto da economia. Por outro lado, permite a redução de 116 mil toneladas de CO2 para a atmosfera e contribui para a criação de 2.400 postos de trabalho.

Com isto demonstrámos que as pessoas poderão ter um papel activo na proteção do ambiente e que os seus gestos podem ajudar a fazer a diferença. No caso da reciclagem, por exemplo, 71% da população já faz a separação dos seus resíduos de embalagens, o que era impensável há alguns anos.

Quais as principais conquistas de 19 anos de SPV?

Uma das principais conquistas foi, sem dúvida, o cumprimento das metas, tanto em 2005 como em 2011. Neste último caso, a taxa global da reciclagem fixou-se nos 64%, ultrapassando a meta global de 55% prevista na Licença atribuída à Sociedade Ponto Verde. Estes valores só foram possíveis pelo trabalho desenvolvido por todos os parceiros do SIGRE, consubstanciada na tendência de aumento, ano após ano, das quantidades de resíduos de embalagens enviadas para reciclagem.

Outra das conquistas que destacaria prende-se com o crescimento do número de separadores em Portugal, fruto do trabalho de sensibilização desenvolvido pela SPV e pelos seus parceiros. Ao longo destes anos, através da sua actividade e dos vários projectos realizados, a Sociedade Ponto Verde conquistou um lugar de referência quando se fala em sustentabilidade.

Qual será o futuro da indústria dos resíduos em Portugal?

Temos razões para acreditar que será promissor. Um estudo, com o apoio da Sociedade Ponto Verde, revelou que as atividades de gestão de resíduos urbanos tiveram um impacte económico directo de €357 milhões, permitindo também a criação de mais de 15.000 postos de trabalho diretos e indirectos. São números muito relevantes, e que, de acordo com o mesmo estudo, poderão ser ainda mais relevantes com as metas definidas no PERSU 2020.

No que diz respeito ao Valor Acrescentado Bruto, o impacte económico directo global das actividades de gestão de resíduos urbanos aumentará 26%, para €451 milhões. Por outro lado, estima-se que as emissões de gases com efeito de estufa se reduzam 47%, o que se traduz na poupança da emissão de 522 mil toneladas de CO2. Este desempenho deve-se não só à redução dos quantitativos enviados para aterro, sobretudo das frações biodegradáveis, mas igualmente pelo aumento previsto para a reciclagem dos resíduos urbanos. No caso do emprego, está estimado um aumento de 22% de postos de trabalho no cenário do PERSU 2020, com o emprego directo a subir para os 13.000 postos de trabalho.

Onde vê a SPV dentro de cinco e dez anos, respectivamente?

A consolidar a sua posição de referência em matéria da gestão de resíduos, prestando um serviço de excelência aos produtores de resíduos.

O facto de ter sido presidente da PRO Europe, contactando com congéneres europeus do sistema Ponto Verde, contribuiu para a partilha de conhecimento e uma melhor compreensão do que pode ser a nossa indústria de resíduos?

Sem dúvida. Cada vez mais a indústria portuguesa, incluindo a de reciclagem, deverá ter como mercado natural o espaço europeu. Para tal, deverá garantir, por si, a competitividade necessária para concorrer com as empresas de reciclagem europeias. E a tecnologia está disponível. Existem recursos humanos qualificados, existe um capital de experiência muito grande, pelo que acredito que claramente Portugal reúne as condições necessárias para que a sua indústria de reciclagem seja competitiva.

O contacto com a realidade europeia através da PRO Europe permitiu confirmar isso. Para além disso, através da PRO Europe são partilhadas as melhores práticas contribuindo para uma Europa eficiente na utilização dos seus recursos e rumo a uma economia circular.

Que países melhor espelham o cenário que considera ideal para o futuro da reciclagem e gestão de resíduos em Portugal?

A gestão de resíduos no espaço europeu tem vindo a evoluir significativamente. Só para dar uma ideia, em 2010 uma parte significativa dos resíduos urbanos ainda era depositada em aterros. A principal tendência vai no sentido de reciclar ou compostar, existindo vários modelos espalhados por toda a Europa.

Independentemente dos modelos adoptados, o fundamental é contribuir para que cada país possa atingir as suas metas e que a legislação seja cumprida por todos.

Este artigo faz parte de um trabalho especial sobre Resíduos, publicado durante o mês de Junho e promovido pela Sociedade Ponto Verde. Todas as sugestões de temas podem ser enviadas para info@greensavers.sapo.pt. Siga a SPV no Facebook, YouTube, Pinterest ou Linkedin e assine a sua newsletter.





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