Luz solar nas cidades está a tornar-se uma espécie ameaçada



Pagaria mais por uma casa que tivesse mais luz natural ou aceitaria uma taxa municipal extra consoante o número de janelas que tivesse em casa? Pois bem, no final do século XVII, a monarquia britânica instaurou uma taxa semelhante e medidas como esta podem novamente ser aplicadas, à medida que a luz natural se vai tornando num bem cada vez mais precioso.

A cidade de Rjukan, nas montanhas norueguesas, gastou recentemente €579 mil para instalar um espelho gigante que reflectisse a luz solar nos meses de inverno para a praça central da localidade (ver galeria). No Cairo, os investigadores desenvolverem uma folha de plástico corrugado que consegue dobrar a quantidade de luz que penetra nas ruelas estreitas da cidade.

A importância da luz para a arquitectura não é segredo. Contudo, as novas concepções arquitectónicas parecem esquecer-se da sua importância, pois à medida que a densidade das cidades aumenta, a altura dos edifícios aumenta em proporção, impedindo que a luz natural chegue a todos os edifícios e pessoas.

Nas cidades, a luz natural é essencial para o design urbano e para os valores das propriedades, mas o Sol é um amigo inconstante. A luz pode ser responsável pelo preço dos apartamentos, pela popularidade dos parques e influenciar ainda as rendas dos espaços. As suas propriedades holísticas são óbvias, mas os seus benefícios económicos não são menos importantes, incluindo o efeito da radiação solar nos preços do aquecimento e o potencial crescente para o uso de painéis solares urbanos.

Desta forma, a luz natural constitui-se como um bem precioso e em vias de extinção, se os edifícios continuarem a crescer em altura. Há dois milénios que a importância da luz solar é discutida. Os gregos incorporaram o Sol no planeamento das cidades. O imperador romano Justiniano assegurou que nenhum novo bairro construído podia obstruir a luz “anteriormente utilizada para aquecimento, iluminação ou marcação das horas”, refere o Salon.

Em Inglaterra, durante o período da Revolução Industrial, o parlamento legislou a questão da luz solar e em 1832 aprovou a lei das “Luzes Antigas”, que impedia as novas construções de obstruir a passagem da luz para o interior dos edifícios já existentes.

Mais recentemente, no Japão, onde os arranha-céus são comuns, uma lei semelhante – “chamada ‘nissho-ken’ – é frequentemente invocada. À medida que os arranha-céus foram proliferando nos anos 1960, alinhando-se ao lado das pequenas casas, o número de processos relacionados com a luz solar proliferou, de seis em 1968 para 83 em 1972. Mais de 300 cidades adoptaram uma espécie de “código horário para a luz solar”, clarificando multas que os construtores deveriam pagar por obstruírem a passagem da luz natural.

Cenários como estes podem em breve chegar à Europa e Estados Unidos, onde as cidades crescem em altura e o planeamento urbano já não tem em conta o direito à luz natural.

Foto: Teerão, Irão.  Hamed Saber / Creative Commons

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