Maçarico-de-bico-fino pode ser a primeira ave do continente europeu declarada como extinta em 500 anos



Avistado pela última vez em 1995, em Marrocos, o maçarico-de-bico-fino (Numenius tenuirostris) pode vir a ser a primeira espécie de ave do território continental europeu a ser declarada extinta em cerca de 500 anos.

Décadas de trabalho de investigação para encontrar indícios dessa espécie não surtiram resultados, pelo que um grupo de cientistas, depois de uma análise exaustiva de toda a informação disponível, declarou que o maçarico-de-bico-fino está extinto.

Num artigo publicado na revista ‘Ibis’ no final do ano passado, um grupo de especialistas em aves (da Sociedade Real para a Proteção da Aves (RSPB), do Museu de História Natural de Londres, da University College London, da BirdLife International e do Naturalis Biodiversity Center) declarou que a espécie estava efetivamente extinta e que o seu estatuto de conservação na Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza deveria ser alterado de “Criticamente em Perigo” para “Extinto”.

Os autores dizem que já desde a década de 1920 se ouviam alertas sobre o declínio das populações de maçarico-de-bico-fino, e algumas projeções apontavam para a possibilidade da sua extinção algures em 1940. Contudo, a espécie resistiu, pelo menos chegou ainda a ser avistada em 1995. Não se sabia é que essa seria a última vez que se veria esse animal na Natureza.

Em comunicado, Alexander L. Bond, um dos principais autores do estudo, recorda que “quando o maçarico-de-bico-fino deixou de regressar ao seu principal local de invernada em Merja Zerga”, uma lagoa de maré no noroeste marroquino onde a ave foi vista pela última vez, foram feitos vários esforços para localizá-la.

“Infelizmente, tudo resultou em nada”, lamenta o curador de aves do museu londrino.

Por ser muito parecido ao maçarico-real (Numenius arquata), alguns relatos incorretos foram dando esperança aos cientistas, adiando a sua declaração como extinto. Ao contrário do maçarico-real, o maçarico-de-bico-fino tem uma porção de penas brancas na parte inferior da sua cauda, a sua característica mais distintiva, mas que só pode ser vista em voo.

Do que se sabe sobre o seu modo de vida, os maçaricos-de-bico-fino nidificavam em zona húmidas no sul da Rússia e em partes do Cazaquistão. Aliás, esses sãos os únicos locais para os quais há registos de nidificação dessa espécie.

Quando o inverno se aproximava e o frio começava a apertar, esses maçaricos levantavam voo, atravessando o delta do Danúbio, sobrevoavam os países balcânicos, passavam pelo sul de Itália e chegavam ao norte de África, especificamente Marrocos, onde podiam passar os meses mais frios do ano.

Os especialistas apontam que no século XIX, os maçaricos-de-bico-fino eram considerados aves abundantes na Europa, norte de África e na região ocidental da Ásia. Contudo, no século seguinte, eram já descritas como raras.

Embora as causas que levaram ao seu declínio e consequente extinção não sejam ainda claras, especula-se que possam estar relacionadas com a drenagem de zonas húmidas onde nidificaram, para dar lugar a explorações agrícolas, e com a crescente pressão humana nas zonas costeiras. Além disso, os cientistas não põem de parte a possibilidade de a caça ter também sido um fator determinante no desaparecimento desta espécie.

Esta história com um final trágico deve, segundo os autores do artigo, servir como um sinal de alerta, pois “mesmo espécies europeias com ampla distribuição correm o risco de extinção, que pode acontecer em relativamente pouco tempo”.

O estudo salienta que, atualmente, ocorrem na Europa 43 espécies com estatuto de ameaça global, e o número não pára de aumentar.

“Numa altura crítica para a biodiversidade, devemos evitar o próximo ‘maçarico-de-bico-fino’ através do reforço de ações de conservação, coordenadas através de parcerias, incluindo intervenção direta e políticas de conservação da natureza”, defendem os investigadores.

A RSPB diz que é preciso conhecer a história do maçarico-de-bico-fino para que o seu parente próximo, o maçarico-real, não tenha do mesmo destino. Isto, porque o maçarico-real enfrenta muitas das mesmas ameaças que o seu “primo” agora extinto, incluindo habitats de nidificação, em zonas húmidas e prados.





Notícias relacionadas



Comentários
Loading...