Macroalgas podem, afinal, não ser um ‘barómetro’ muito fiável da saúde dos recifes de coral



Desde a década de 1970 que a comunidade científica tem tomado as macroalgas como um indicador da saúde dos recifes de coral que jazem por debaixo da superfície do mar. É costume pensar-se que quanto maior for a abundância de macroalgas num dado local, mais degradados estarão os recifes.

Mas uma equipa internacional de cientistas vem desafiar essa noção, argumentando que a presença das macroalgas pode, afinal, não estar diretamente relacionada com a deterioração dos recifes de coral, e que, ao invés, pode ser causada por uma série de outros fatores, incluindo a própria espécie vegetal.

Num artigo divulgado esta sexta-feira na revista ‘Global Change Biology’, apresentam os resultados de um estudo que analisou dados de mais de 1.200 locais nos oceanos Índico e Pacífico ao longo de um período de 16 anos (entre 2004 e 2020). E concluíram que recorrer à presença das macroalgas para avaliar a saúde dos corais pode gerar resultados enganadores.

Os autores escrevem que “geralmente, uma grande cobertura de macroalgas é considerada indicativa de recifes degradados”, uma noção que é suportada pela ideia de que os impactos das atividades humanas locais, como a poluição, fazem aumentar a população de macroalgas e, claro, ameaçam a saúde dos corais.

“Contudo, recifes dominados por macroalgas não estão necessariamente em más condições de saúde”, argumentam, indicando que as macroalgas, de que são exemplo o sargaço e o kelp, promovem o funcionamento dos ecossistemas e os serviços por eles prestados, “contribuindo para a produção de carbonato e fornecendo habitats de berçário que suportam populações adultas de peixes”.

Embora reconheçam que os corais e as macroalgas, realmente, competem por espaço e que as essas últimas dificultam a recuperação dos recifes devido à sombra que lançam sobre os corais e às substâncias químicas que libertam para se defenderem, existem “interações positivas” entre ambos. As macroalgas podem oferecer proteção aos corais face aos predadores, como a estrela-do-mar da espécie Acanthaster planci.

Os investigadores dizem que a proliferação de macroalgas num recife pode ser causada por fatores ambientais, como a exposição ao vento, a ondulação marinha e a temperatura à superfície da água, e não necessariamente ser um sinal dos impactos humanos num dado local e, por consequência, na saúde dos recifes.

Para além disso, diferentes espécies de macroalgas reagem de formas diferentes às condições ambientais, pelo que tomar a sua cobertura “não é um indicador robusto para a perturbação local antropogénica”, pelo menos nos locais estudados.

Assim, recorrer às macroalgas como ‘barómetro’ da saúde dos recifes de coral exige saber de que espécie se trata e de que forma responde a uma variedade de fatores, como a poluição, o nível de sedimentação, temperatura da água, entre outros. Só dessa forma será possível perceber se a proliferação de determinado tipo de alga é, ou não, sinal de que aquela zona está a ser afetada negativamente pelas ações humanas ao redor, que por sua vez podem estar a colocar em risco a sobrevivência dos corais.

“A gestão estratégica dos recifes de coral é cada vez mais vital, à medida que o clima continua a aquecer”, escrevem os investigadores, pelo que perceber como estão a ser afetados “é uma parte indispensável da investigação e da gestão, mas as métricas mais comummente usadas nesse trabalho [a cobertura de macroalgas] baseiam-se num paradigma sobre-simplificado e pouco testado”.

Os cientistas esperam este trabalho faça a comunidade científica repensar o padrão pelo qual se mede a saúde dos recifes de coral “e os efeitos da perturbação humana, especialmente em condições ambientais em rápida transformação”.





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