Maioria das empresas portuguesas diz estar alinhada com limite de 1,5 graus. Mas só 6% tem planos avançados
Perto de 70% das empresas portuguesas afirmam ter estratégias de transição climática alinhadas com a meta de 1,5 graus Celsius de aquecimento global, segundo os objetivos definidos no Acordo de Paris.
Apesar de ser uma percentagem superior à média da União Europeia (cerca de 50%), ainda há um caminho a percorrer, uma vez que apenas 6% das empresas portuguesas apresentam planos considerados avançados, face à média europeia de 5%.
A conclusão é do mais recente relatório da CDP, que avalia a robustez e credibilidade desses planos de transição de 1500 empresas na Europa, incluindo 18 de Portugal, e cujos principais resultados foram apresentados esta terça-feira pela Oliver Wyman, que participou na elaboração deste estudo. Apesar de ser um número reduzido de empresas portuguesas, a Oliver Wyman diz que são representativas do setor empresarial nacional e que o grupo é composto por “grandes empresas em Portugal”, líderes nos respetivos setores.
No plano europeu, os países escandinavos são os que apresentam maiores percentagens de empresas com planos de transição climática avançados, sendo que, por outro lado, no sul da Europa, a Espanha e a Itália são os que têm percentagens menores, da ordem dos 1%.
Por isso, Joana Freixa, analista da Oliver Wyman Portugal, afirma que o país “compara de forma muito positiva com a média europeia”.
Desalinhamento das receitas e despesas com estratégias climáticas é um dos principais desafios
Embora se estime que 93% das empresas portuguesas tenham implementadas iniciativas de redução de emissões de gases com efeito de estufa, face à média de 91% da média europeia, e que 80% das empresas nacionais ofereçam produtos e serviços com reduzido potencial de emissões, apenas aproximadamente 33% é capaz de avaliar o alinhamento das suas despesas e receitas com os seus planos para uma transição climática em linha com os 1,5 graus.
No que toca à sua cadeia de valor, somente metade das empresas portuguesas integram compromissos climáticos nos contratos que firmam com os seus fornecedores, contra a média de 39% da média da União Europeia, e 57% dizem colaborar de forma holística (de ponta a ponta) com a sua cadeia de valor para mitigar impactos sobre o clima.
Como tal, existe margem para melhoria no que respeita aos compromissos das empresas portuguesas para com a descarbonização e transição climática das suas cadeias de valor, pois apenas 33%, em linha com a média europeia, têm objetivos definidos para limitar as suas emissões de Scope 3, que englobam todas as emissões indiretas resultantes da sua cadeia de valor.
Especialistas em clima nos conselhos de administração destacam empresas portuguesas
O relatório da CDP revela que todas as empresas portuguesas abrangidas dizem incluir especialistas em clima nos seus conselhos de administração, contra os 79% da UE, e que adotaram medidas de monitorização de indicadores climáticos nesse nível da organização.
Além disso, 72% afirmam ter integrados indicadores climáticos na remuneração dos seus executivos seniores, face à média europeia de 54%. Ainda, 78% das empresas portuguesas dizem integrar informações sobre os seus impactos climáticos em relatórios gerais, percentagem que se alinha com o cenário regional mais lato.
Setor da eletricidade é o que mais avanços apresenta na Europa
No contexto europeu, as empresas do setor da eletricidade são as que mais avanços apresentam nos seus planos de transição climática para respeitar a meta dos 1,5 graus, mostrando “uma maturidade superior a outros setores”, explica Joana Freixa. A especialista considera que tal se deve ao facto de o setor da eletricidade ter “um grande foco na transição há muitos anos” e à disponibilidade de tecnologias que permitem esses avanços.
Em contraponto, os setores da agricultura e dos metais e mineração são os que apresentam uma menor maturidade média no que toca à transição climática.
No entanto, mesmo dentro de cada um dos setores, existem diferenças consoante os indicadores analisados. Por exemplo, no que toca a objetivos e prioridades para uma transição climática, o setor da siderurgia é o que mostra mais avanços, seguido pelas empresas de eletricidade e pelas empresas de petróleo e gás. Nos indicadores de compromissos com a cadeia de valor e de estratégia de execução é possível ver que a grande maioria das empresas europeias ainda tem um longo caminho pela frente.
Regra geral, as empresas portuguesas estão bem posicionadas em matéria de transição climática comparativamente à média da UE, embora exista ainda espaço para melhorar, sobretudo ao nível da robustez e transparência das suas estratégias e no alinhamento entre as despesas e receitas com os planos de redução das emissões.