Mais €0,08 por peça de roupa salvaria centenas de vidas no Bangladesh
A recessão económica está a fazer com que os consumidores queiram gastar menos dinheiro nos produtos. Mas a verdade é que dar cerca de mais €0,08 (R$ 0,20) pelo valor de uma peça de roupa produzida no Bangladesh poderia evitar desastres como o registado no mês passado, com o colapso do edifício Rana Plaza que matou mais de 1.100 pessoas, sendo o mais mortal acidente na história da indústria do vestuário.
Por mais incrível do que possa parecer, mais €0,08 por peça podiam salvar vidas. Quem o disse foi o Worker Rights Consortium – um grupo que investiga as condições de trabalho em fábricas por todo o mundo – no ano passado, depois de um incêndio numa fábrica do Bangladesh ter morto mais de 100 pessoas. A análise revelava que a indústria do vestuário mundial teria de gastar €2,3 mil milhões (R$ 6,1 mil milhões), ao longo de cinco anos, para equipar 4.500 fábricas no Bangladesh de acordo com as normas de segurança ocidentais.
No passado dia 24 de Abril, quando se deu o trágico colapso, o Worker Rights Consortium começou a divulgar os nomes das marcas que produziam roupas na fábrica que desabou – Wal-Mart, Benetton, Dress Barn, Primark, Mango, entre outras. De seguida, uma coligação de sindicatos, ONGs e ex-trabalhadores da fábrica propuseram um acordo vinculativo para a segurança e ocorrência de incêndios no edifício – ontem era o prazo limite para as empresas concordarem com os seus termos. A partir da manhã de sexta-feira, o acordo abrange 34 retalhistas e mais de 1.000 fábricas no Bangladesh.
Ficam assinaladas, contudo, algumas renúncias ao acordo – a Wal-Mart, optando por seguir as suas próprias iniciativas de segurança, não o assinou, tal como a Gap, que declarou que esteve a “seis frases” de o fazer.
Ainda assim, há razões para acreditar que as mudanças decretadas pelas empresas que assinaram o acordo ajudarão a salvar vidas. No Camboja, um programa administrado pela International Labour Organization, em colaboração com o governo, melhorou significativamente as condições de trabalho, tal como os direitos dos trabalhadores, ao mesmo tempo que as exportações continuaram a aumentar.
Porém, enquanto os consumidores e as empresas continuarem a insistir no menor preço e na maior variedade de artigos, haverá sempre fábricas dispostas a cortar nas despesas de produção de modo a lucrar o mais possível. Mais €0,08 por uma camisa ou um par de meias não valem nada em comparação ao valor de centenas de vidas humanas.
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