Marsupial ameaçado de extinção ainda mais pressionado por causa do aquecimento global



O numbat (Myrmecobius fasciatus), por vezes também conhecido como mirmecóbio, é um marsupial insectívoro nativo das paisagens áridas e tórridas da Austrália. Atualmente, a espécie está classificada como ‘Em Perigo’, estimando-se que não existam mais de dois mil indivíduos em todo o mundo, todos concentrados no extremo sudoeste australiano, na zona de Perth.

O declínio do numbat deve-se principalmente à predação por parte de espécies exóticas invasoras, como as raposas (Vulpes vulpes) e gatos ferais (Felis catus), mas a perda de habitat devido a incêndios e à destruição de florestas para abrir caminho para a expansão de atividades agrícolas é também um importante fatore de ameaça.

Ao contrário de outros marsupiais dessa região do mundo, é um animal que está ativo durante o dia, pelo que o aumento da temperatura média do planeta poderá intensificar a pressão sobre esta espécie já ameaçada.

Numbate juvenil observado durante o trabalho de campo dos investigadores.
Foto: Curtin University

Com um mundo cada vez mais quente, os cientistas preveem que as populações restantes de numbat podem sofrer ainda mais perdas. Num artigo publicado na revista ‘Journal of Experimental Biology’, investigadores da Universidade da Austrália Ocidental e da Universidade Curtin estimam, através de medições não-invasivas feitas com equipamentos de imagem térmica, que em dias de muito calor estes animais podem ver a sua atividade diurna limitada a um máximo de 10 minutos, além dos quais os seus corpos podem sobreaquecer, podendo ultrapassar os 40 graus Celsius de temperatura interna.

Embora o numbat, tendo evoluído em ambientes áridos e quentes, tenha estratégias para reter ou libertar calor, levantando o seu pelo para deixar a sua pele absorver a radiação solar ou baixando-o e usando-o como ‘escudo’ para evitar o sobreaquecimento, os cientistas consideram que tais adaptações podem vir a revelar-se insuficientes para fazer face a um clima mais e mais quente.

Ainda que possam abrigar-se à sombra de árvores e rochas quando procuram alimento, o perigo de sobreaquecimento continua presente. “Ativos apenas durante o dia e com uma dieta exclusivamente à base de térmitas, os numbats estão frequentemente expostos a altas temperaturas e ganham calor pela exposição direta à radiação solar”, explica, citada em comunicado, Christine Cooper, primeira autora do artigo, que assina juntamente com Philip Withers.

“Mesmo quando estão à sombra, podem absorver calor da radiação emanada pelo solo, pelas rochas e pelas árvores”, salienta a cientista, que acrescenta que “as temperaturas elevadas reduzirão o tempo que os numbats poderão passar a procurar alimento durante o dia”.

Além disso, como dificilmente poderão adotar estilos de vida mais notívagos, “o calor poderá tornar-se problemático para os numbats”, avisa.

A dupla de investigadores australianos argumenta que é fundamental perceber como estes marsupiais respondem ao aumento da temperatura para que os esforços para a sua conservação, bem como ações de repovoamento da espécie, sejam bem-sucedidos.

No que toca aos habitats ideais dos numbats, “os nossos resultados mostram a importância de se considerar a temperatura e a disponibilidade de sombra quando se planeiam translocações para a conservação desta espécie ameaçada, especialmente dado o nosso clima cada vez mais quente”, aponta Cooper.





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