Menos de 0,001% dos fundos abissais marinhos foram fotografados ou filmados

Um grupo de cientistas da organização Ocean Discovery League calcula que menos de 0,001% dos fundos marinhos para lá dos 200 metros de profundidade foram fotografados ou filmados.
Apesar de cobrirem cerca de 60% da superfície da Terra, essas zonas escuras e misteriosas – e repletas de vida, contrariamente ao que se possa pensar – continuam praticamente inexploradas, tendo os humanos visto, com os seus próprios olhos ou através de equipamentos de captação de imagem, somente uma área equivalente a um décimo da área da Bélgica.
A revelação é feita num artigo divulgado recentemente na revista ‘Science Advances’ e baseou-se na análise de perto de 44 mil mergulhos de profundidade realizados desde 1958 nas águas de 120 países diferentes. Apesar de a exploração científica das profundezas marinhas já acontecer há várias décadas, calcula-se que 65% das observações visuais desses mundos aconteceram sobretudo a poucas milhas da costa de apenas três países: Estados Unidos da América (EUA), Japão e Nova Zelândia.
Além disso, os autores do estudo chamam a atenção para a desigualdade no que toca ao financiamento para explorar os abismos dos oceanos, uma vez que somente cinco países – os três anteriores mais a França e a Alemanha – são responsáveis por 97% de todas as observações feitas em mergulhos de profundidade.
Como tal, argumentam que mesmo o pouco que até agora pudemos ver das áreas mais recônditas dos mares e oceanos do planeta Terra se baseia numa amostra “incrivelmente pequena” que, nem de perto nem de longe, é representativa das diversidades biológica e ecológica que esses mundos ainda escondem.
Ainda, dizem que o foco de investigação tem recaído mais intensamente sobre montes e desfiladeiros submarinos, com outros marcos geomorfológicos, como as planícies abissais, a continuarem largamente por explorar.
Numa altura em que a atenção de muitos, desde empresas a governos, se vira cada vez mais para os minerais no leito marinho, os cientistas têm incessantemente apelado à precaução, instando a comunidade internacional a não avançar “às cegas” para a mineração em mar profundo até se ter um conhecimento consolidado sobre o que existe nessas zonas mais desconhecidas do nosso planeta e sobre os possíveis impactos que as atividades extrativas neles poderão ter.
Por isso, os autores deste estudo defendem a expansão dos esforços de exploração e, com avanços tecnológicos a permitirem criar ferramentas mais pequenas, mais acessíveis e mais fáceis de usar, preveem uma “proliferação de tecnologia” por todo o mundo que deverá permitir um maior acesso ao oceano profundo a uma muito maior comunidade de cientistas, independentemente do país onde estão sediados.
“À medida que enfrentamos ameaças aceleradas ao oceano profundo – desde as alterações climáticas à potencial mineração e exploração de recursos – esta exploração limitada de uma tão vasta região torna-se um problema crítico tanto para a ciência como em termos de políticas”, diz Katherine Bell, primeira autora do artigo.
“Precisamos de compreender muito melhor os ecossistemas e processos do oceano profundo para tomar decisões informadas sobre a gestão e conservação dos recursos.”