Menos de metade do Sudeste Asiático vê crise climática como ameaça
Menos da metade dos entrevistados do Sudeste Asiático acredita que a mudança climática representa uma séria ameaça, em comparação com 68,6% que, há dois anos, tinham expressado forte preocupação, de acordo com um estudo.
O estudo anual “Southeast Asia Climate Outlook: Survey Report 2023”, elaborado pelo Instituto Yusof Ishak de Singapura (ISEAS) e divulgado na quinta-feira, mostrou que apenas 49,4% dos inquiridos afirmaram considerar as alterações climáticas como “uma ameaça grave e imediata ao bem-estar do país”, contra 68,8% em 2021.
Uma proporção semelhante de inquiridos (41,9%) afirmou, por outro lado, ver “necessidade de monitorizar as alterações climáticas”.
“Isto levanta a questão de saber se a associação de problemas imediatos, como a escassez de energia e a insegurança, se deve aos impactos climáticos, a problemas geopolíticos ou a questões domésticas”, afirmou o instituto, no relatório.
O instituto, que acompanha as perceções na região sobre questões e impactos da crise climática desde 2020, entrevistou 2.225 pessoas que vivem em 10 países do Sudeste Asiático entre 10 de julho e 07 de agosto.
Apesar da queda acentuada das perceções de urgência climática, o inquérito indicou um aumento das preocupações com a segurança alimentar: sete em cada dez inquiridos manifestaram uma preocupação considerável com a disponibilidade e o acesso aos alimentos devido aos impactos climáticos nos próximos anos.
As maiores preocupações dos inquiridos foram as inundações (79%), as vagas de calor (51,4%) e as secas (47,6%).
Para resolver os problemas de segurança alimentar global, a maioria dos inquiridos afirmou que os governos deviam dar prioridade à necessidade de promoverem métodos agrícolas resistentes ao clima (67,2%), aumentar os investimentos agroalimentares (63,9%) e aumentar a produção alimentar nacional (56,6%).
Os dados mostraram que “a maior atribuição de responsabilidade pelas alterações climáticas continua a ser feita aos governos nacionais”, o que sugere que “os cidadãos (…) esperam fortemente que os governos nacionais estejam na vanguarda da articulação de visões e regulamentos climáticos mais claros para as economias”, de acordo com o estudo.
A este respeito, a maioria (35,7%) dos inquiridos considerou que o seu governo “está consciente das ameaças climáticas”, mas não dispõe de “recursos suficientes para as enfrentar”, enquanto 25% entendeu que o executivo “não está a prestar atenção suficiente às alterações climáticas”.
Um grupo semelhante (24,8%) respondeu acreditar que as autoridades consideram “as alterações climáticas uma prioridade nacional urgente e afetaram recursos suficientes para as enfrentar”.
A instituição lançou também um alerta, no estudo: em junho, “foram estabelecidos recordes globais para as temperaturas e a cobertura de gelo marinho mais baixas observadas em qualquer junho em 174 anos”.
“Mais perto de casa, as temperaturas mais altas alguma vez registadas aconteceram no Vietname e no Laos, em maio, e na Tailândia, em abril”, o que é indicativo do agravamento da crise climática na região, onde “estes recordes de temperatura vão continuar a atingir novos máximos”, sustentou.
Como se espera que a região entre numa época sob influência do fenómeno El Niño, que deverá trazer tempo mais quente, ondas de calor e seca, as previsões apontam para um aumento dos incêndios florestais nos próximos meses.
Além disso, os impactos imediatos das alterações climáticas “introduzirão novos ‘choques’ económicos nos países da região dependentes da agricultura”.
“Não é um futuro para o qual a região esteja preparada”, concluiu o relatório.