Mesmo 80 anos depois, navio que naufragou na II Guerra Mundial continua a influenciar a vida marinha no Mar do Norte



A 12 de fevereiro de 1942, em plena II Guerra Mundial, a traineira ‘John Mahn’, construída 15 anos antes, foi requisitada pela Marinha da Alemanha nazi liderada por Adolf Hitler, e transformada num navio de guerra, com a designação de ‘Vorpostenboot V-1302’.

Nesse dia, foi atacado por seis aviões da Força Aérea britânica no Mar do Norte, perto da costa da Bélgica. Apesar de ter conseguido abater uma das aeronaves, o V-1302 acabou por naufragar, arrastando para o fundo do mar grandes quantidades de combustível, como carvão, e de substâncias explosivas.

Estima-se que, por todo o mundo, os navios naufragados durante a I e a II Guerras Mundiais ainda contenham, no seu conjunto, entre 2,5 e 20,4 milhões de toneladas de produtos petrolíferos, e, assim, o potencial para causarem sérios danos aos ecossistemas marinhos.

Os especialistas explicam que, ao contrário dos recifes artificiais, que se criam afundando intencionalmente navios ou estruturas para que possam servir como pequenos ‘oásis’ de vida, os navios que afundaram durante os períodos de guerra não foram despojados dos produtos tóxicos que transportavam. Essas substâncias, tal como já demonstrado em vários estudos, podem afetar negativamente a alimentação, crescimento e reprodução de organismos marinhos, bem como causar danos irreversíveis nos tecidos dessas formas de vida.

“Apesar de frequentemente os naufrágios serem considerados pontos quentes de biodiversidade, os impactos ambientais no leito marinho por naufrágios históricos das Guerras Mundiais só recentemente começaram a despertar o interesse”, explicam os cientistas.

Josefien van Landuyt, da Universidade de Ghent, na Bélgica, e uma das autoras do estudo publicado na revista ‘Frontiers in Marine Science’, aponta que “o público geral está muitas vezes interessado nos naufrágios devido ao seu valor histórico, mas o potencial impacto ambiental desses naufrágios é frequentemente ignorado”.

Reconhecendo que os navios afundados podem servir de recifes artificiais, Van Landuyt salienta que são objetos artificiais “que foram introduzidos sem querer num ambiente natural” e que “podem ser perigosos”.

“Atualmente, novos naufrágios são removidos por essa mesma razão”, indica.

Com o estudo sobre o V-1302, a equipa de cientistas queria perceber se os navios afundados durante as Guerras Mundiais na parte belga do Mar do Norte ainda estavam a afetar as comunidades microbianas marinhas e os sedimentos em volta dos destroços. E o que descobriram gerou preocupação.


Através da análise de amostras sedimentares recolhidas nas áreas onde a embarcação naufragou, foram detetadas concentrações de poluentes tóxicos, de metais pesados, como o níquel e o cobre, de combustíveis fósseis, de arsénico e de compostos explosivos. Quanto mais próximo do naufrágio, maiores eram as quantidades de substâncias nocivas libertadas.

“Apesar de não vermos estes velhos naufrágios, e de muitos de nós não sabermos onde estão, podem ainda estar a poluir o nosso ecossistema marinho”, alerta Van Landuyt, que destaca que, com o passar do tempo, os destroços podem ter impactos ambientais ainda maiores devido à erosão.

“Tanto as bactérias locais como a microalgas são influenciadas pela química e estrutura fornecida por este naufrágio”, refere o artigo.

“Muitas vezes as pessoas esquecem-se de que abaixo da superfície do mar, nós, humanos, já temos um impacto significativo nos animais, micróbios e plantas que aí vivem”, recorda a cientista. “Nós só investigámos um navio, a uma profundidade, numa localização”, pelo que mais investigações são necessárias para se poder compreender melhor os impactos dos naufrágios não intencionais nos ecossistemas marinhos.





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