Mesmo num ambiente estranho, as formigas não andam ‘à deriva’



As colónias de formigas são frequentemente consideradas superorganismos, ao invés de meros agrupamentos de indivíduos, funcionamento numa sincronia tal que rivalizam com a mecânica de muitos exércitos humanos.

Essa sintonia é possível graças à emissão de feromonas pelas obreiras, que, ao contrário do que se possa pensar, são quem realmente governa a colónia. A rainha muitas vezes não passa de uma máquina de reprodução, sem grande poder executivo no funcionamento interno do grupo.

Em passeios pela natureza, podemos dar de caras com filas aparentemente intermináveis de formigas que ‘marcham’ numa linha perfeita, seguindo rastos de feromonas que traçam linhas num mapa odorífero que orienta estes pequenos insetos num mundo que, aos seus olhos, é gigantesco.

Até agora, o consenso científico dizia-nos que, quando colocados num ambiente desconhecido, as formigas rumam pelo solo de forma errática, ainda que ordeira. No entanto, uma nova investigação de cientistas da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, publicada na revista ‘iScience’, vem refutar essa ideia.

Os investigadores colocaram formigas da espécie Temnothorax rugatulus num ambiente que não lhes era familiar, no laboratório, e perceberam que os seus percursos não eram assim tão incertos. Antes, era uma combinação entre movimentos sistemáticos e aleatórios, um método que os cientistas dizem otimizar a exploração do ambiente envolvente.

“Anteriormente, os investigadores no terreno assumiam que as formigas se deslocam de forma puramente aleatória na sua procura por alvos sobre os quais não conhecem a localização”, explica Stefan Popp, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva e principal autor do artigo.

O que eles descobriram é que as formigas, pelo menos esta espécie em particular, apresentam um padrão de deslocação “regular” quando exploram a área nas imediações das suas colónias.

Medindo metade do comprimento de um grão de arroz, as formigas T. rugatulus, no estado do Arizona, instalam as suas colónias entre as rochas ou debaixo delas e podem ser encontradas a dois mil metros de altitude.

Os cientistas dizem que os percurso em ‘ziguezague’ feitos pelas formigas são um método muito mais eficiente de exploração de terreno desconhecido do que simplesmente andar à deriva, ajudando-as a cobrir uma maior área em menos tempo e evitando passar duas vezes pelo mesmo sítio.

Os padrões de deslocação em ‘ziguezague’, de acordo com os autores, apresenta uma “vantagem evolutiva” para as T. rugatulus, e pode também ser observado noutras espécies de insetos e outros animais. E essa técnica de exploração pode mesmo vir a servir de inspiração para o desenvolvimento de robôs para ajudarem em missões de busca e salvamento em zonas que atingidas por desastres naturais ou mesmo em missões de exploração de novos planetas.

No laboratório, as formigas colhidas pela equipa de cientistas foram colocadas num recinto artificial com um solo feito de papel. Após terem sido colocadas no novo ambiente, não perderam tempo e começaram logo a explorar o novo terreno.

Popp acredita que estivessem à procura de outras colónias concorrentes e possivelmente inimigas, mas podem também ter procurado alimento e novos locais para estabelecer uma nova colónia.

E nessa busca o padrão em ‘ziguezague’ rapidamente se tornou evidente. Recorrendo a software de monitorização de movimentos, os investigadores perceberam que, ao longo de um período de cinco horas, formigas individuais seguiam o mesmo padrão ondulante, deitando por terra a ideia de que se deslocam de forma aleatória num ambiente estranho.

Essas mediações permitiram também verificar que as curvas para a direita e para esquerda aconteciam a cada 10 milímetros, perto de três vezes o tamanho médio de uma formiga dessa espécie, e que não repetiam o caminho já percorrido.

Contudo, não se sabe se este padrão de exploração muda ao longo da vida de cada uma das formigas individuais nem se elas o executam conscientemente, ou se será guiado por algum traço instintivo. Seja como for, esta técnica oferece mais vantagens do que padrões de exploração aleatória.





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