Mesmo sem células nervosas, plantas sabem quando alguém lhes toca e deixa de tocar



As plantas não estão equipadas com as células nervosas que permitem aos animais, por exemplo, sentirem o ambiente à sua volta e o toque dos outros. No entanto, uma nova investigação revela que duas espécies vegetais são capazes de reconhecer o toque e quando esse toque cessa.

Focando-se nas plantas herbáceas Arabidopsis thaliana e na Nicotiana tabacum, sendo essa última usada amplamente na produção de tabaco, cientistas dos Estados Unidos da América, da Dinamarca e da Alemanha descobriram que essas espécies contêm células na sua epiderme que informam a planta de que está a ser tocada, enviando sinais de cálcio para outras células. Quando a pressão do toque deixa de existir, as ondas de sinais de cálcio propagam-se ainda mais rapidamente pelas estruturas celulares.

A Nicotiana tabacum foi uma das espécies de plantas usadas neste estudo para testar a sensibilidade ao toque.
Foto: Wikimedia Commons

Os resultados do estudo foram divulgados recentemente num artigo publicado na revista ‘Nature Plants’, onde os investigadores dizem que, apesar de anteriormente já se ter descoberto que as plantas reagem ao toque, este é o primeiro trabalho a demonstrar que enviam sinais diferentes quando o toque começa e quando acaba.

Michael Knoblauch, da Washington State University e um dos principais autores, afirma ter sido surpreendido pela sensibilidade das células destas duas espécies vegetais. “Elas sentem a pressão, e quando ela é aliviada, sentem a queda na pressão”, explica, acrescentando que “é surpreendente que as plantas consigam fazer isso de uma forma muito diferente dos animais, sem células nervosas”.

Os cientistas realizaram 84 experiências em 12 indivíduos dessas duas espécies, tocando nas suas folhas com uma pequena vara de vidro, da espessura de um fio de cabelo humano, e observando as reações ao microscópio.

Ao passo que o toque causava ondas de cálcio que se propagavam lentamente da célula tocada para as células adjacentes, numa reação que que poderia iniciar-se 30 segundos após o início do toque e durar até cinco minutos, quando o toque terminava a resposta celular era muito mais rápida, causando ondas de cálcio que viajavam entre células a uma velocidade muito superior que se dissipavam ao fim de um minuto.

“Os humanos e os animais sentem o toque através de células sensoriais”, aponta Knoblauch, indicando que nas plantas o toque é sentido através das variações de pressão dentro das próprias células, sejam elas quais forem.

O cientista diz que enquanto os humanos precisam de células nervosas para sentirem o toque, nas plantas, pelo menos nestas duas espécies, qualquer célula é capaz de detetar as mudanças de pressão – o toque – e passar essa informação às células vizinhas.

Contudo, os investigadores não sabem ao certo quais as consequências dessas ondas de cálcio, que tipo de reações elas provocam na planta. Estudo anteriores dizem que esse mecanismo permite à planta saber, por exemplo, quando está a ser atacada por um predador, como uma lagarta, libertando substâncias repelentes para evitar ser devorada.

Ainda assim, os investigadores estão confiantes de que novas tecnologias aplicadas à medição dos sinais de cálcio permitirão perceber melhor a sua função na vida destas plantas.





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