Milão quer pagar aos cidadãos para andarem de bicicleta
O centro financeiro de Itália, Milão, quer ser a primeira grande cidade daquele país a pagar aos cidadãos para utilizarem a bicicleta para as suas deslocações diárias, deixando o carro na garagem. A ideia surgiu na sequência do anúncio, em Dezembro, de um fundo governamental de €35 milhões para soluções de mobilidade sustentável. E a cidade do norte de Itália, conhecida pela crónica falta de soluções de mobilidade sustentável, quer garantir parte desta verba para reduzir os seus alarmantes níveis de poluição.
A decisão será tomada nas próximas semanas, mas o vereador da mobilidade de Milão, Perfrancesco Maran, já avisou que esta estratégia será irreversível: a cidade será mais amiga das bicicletas e terá ter um sistema de partilha de veículos de duas rodas.
“Queremos reembolsar quem vai trabalhar de bicicleta, um projecto igual ao que existe em França”, explicou Maran, que se referia ao projecto que pagou €0,25 por quilómetro a quem pedalava até ao emprego.
Pagar para pedalar não chega
Em Massarosa, uma pequena cidade da Toscânia, também na Itália, 50 cidadãos vão testar este tipo de abordagem nas próximas semanas. Em Milão, porém, os números são mais abrangentes, sendo que a monitorização será feita através de uma app. “O software existe. Não é 100% fiável, mas também ninguém está a pensar em grandes montantes de dinheiro”, explicou Maran.
O projecto está a ser trabalhado pela Universidade Politénica de Milão, pela mão da sua gestora de mobilidade, Eleonora Perotto. Uma das ideias inclui um sistema que monitoriza a velocidade a que uma pessoa se desloca, para perceber se ela está ou não a pedalar para o trabalho. No entanto, há um grande desafio nesta abordagem, uma vez que, em Milão, quem pedala até ao trabalho de bicicleta consegue chegar à mesma hora – ou mais cedo – que quem o faz de carro.
Segundo Eleonora, o grande problema da iniciativa é o facto de o dinheiro não ser suficientemente incentivador para uma pessoa pedalar até ao trabalho – na verdade, estamos a falar de uma das cidades mais ricas de Itália e da Europa. O teste francês teve resultados moderados: poucas centenas de pessoas decidiram inscrever-se, ainda que houvesse 8.000 vagas.
Para a medida ser bem sucedida, explicou ao Guardian o professor Ralph Buehler, da Virgina Tech, Estados Unidos, é necessário que existam uma série de factores: segurança, existência de ciclovias, estacionamento e chuveiros. “Se não existir um ambiente seguro para pedalar, apenas um grupo muito pequeno de pessoas irá fazê-lo. Pagar para uma pessoa andar de bicicleta não terá o efeito [desejado], porque não chegamos à parte da população que é entusiástica mas não preocupada”, concluiu.
Foto: Sergio Bertolini / Creative Commons