Milvoz denuncia a morte de inúmeras aves nas redes das aquaculturas no Mondego
Desde os primeiros anos de 2000 que vários especialistas têm vindo a reparar num problema comum, existente nas áreas de produção aquícola nacional: a morte de inúmeras aves nas redes aéreas de nylon.
Agora, a MilVoz – Associação de Protecção e Conservação da Natureza decidiu expor a situação que se vive no Estuário do Mondego, e apelar à ajuda dos portugueses para que haja efetivamente uma mudança e uma resolução do problema.
Como explica Manuel Malva, Presidente da MilVoz, à Green Savers, “Ao longo destes anos todos foram havendo várias denúncias e várias exposições desta situação, tanto como por cidadãos, observadores de aves, pessoas que passam no local, como por entidades”.
No último ano e meio, o próprio já observou a morte de mais de 80 aves, entre elas espécies com estatutos de conservação preocupantes. É o caso da Águia-de-bonelli, da Coruja-do-nabal, e da Águia-pesqueira, categorizadas como “Em Perigo”, do Bufo-real, como “Quase Ameaçado”, e da Águia-sapeira, em estado “Vulnerável”, indica o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.
No entanto, em fevereiro de 2020 o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) reagiu e acabou por convocar um grupo de trabalho, composto pela MilVoz, pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), pela Associação Portuguesa de Aquacultores (Apa), pelos representares das explorações do Mondego, e pelas entidades licenciadoras e fiscalizadoras, a Direcção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) e o próprio Instituto.
“Todas as entidades concordaram que efetivamente existia um problema, tanto as associações obviamente, como mesmo da parte dos aquacultores. E todas as entidades se comprometeram em conjunto a arranjar uma solução para este problema”.
Como a transição para as redes que consideraram ser as mais adequadas para a acabar com a mortalidade de aves nas explorações, implicava um investimento relevante, ficou decidido que se iria trabalhar em medidas de mitigação até se conseguir uma solução definitiva, explica o representante da MilVoz. É o caso por exemplo da colocação de artefactos sinalizadores, de fitas coloridas ou de cordas atravessadas com coloração.
“Foi definido também que como medida primordial deveria ser elaborado um documento com recomendações perante uma ave acidentada nas redes” refere ainda, que tinha como objetivo ajudar os aquacultores a saber como agir perante a ocorrência da situação nos seus tanques.
“Mais de um ano após a criação deste grupo de trabalho a situação no terreno permanece exatamente igual, e este grupo de trabalho ainda não fez uma única coisa produtiva no sentido de encaminhar isto para a resolução”, aponta Manuel Malva.
É no seguimento destas ocorrências, e após mais de um ano da primeira reunião do grupo de trabalho, que a MilVoz decide expor a situação a público através de um movimento. Este divide-se em dois pontos cruciais, como o próprio afirma: o de alertar para as mortes de aves nas redes transparentes, que são ilegais, e o apelo a uma mudança efetiva.
Assim, apela-se ao envio de três emails: o primeiro denuncia a utilização de redes aéreas de nylon transparente ilegais ao Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), o segundo faz uma exposição da inação das entidades competentes à Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT) e o terceiro explica o problema e exige uma ação aos vários departamentos do ICNF.
O Estuário do Mondego é um caso prático que foi identificado, mas que acaba por alertar para outros a nível nacional em que o problema se estende, nomeadamente no Sado, na Ria de Aveiro e no Algarve, adverte o ambientalista.
Saiba mais aqui:
ICNF PERMANECE CÚMPLICE DA MORTE RECORRENTE DE AVES EM REDES ILEGAIS
A MilVoz tem vindo a acompanhar e a expor a morte…
Publicado por MilVoz – Associação de Protecção e Conservação da Natureza em Sexta-feira, 26 de março de 2021