Minho: construção de mini-hídrica vai destruir pequeno Tibete português
Os habitantes da aldeia de Sistelo, em Arcos de Valdevez, vão reunir-se nos próximos dias para definir a estratégia de contestação à construção de uma mini-hídrica no rio Vez. Em causa está o Aproveitamenteo Hidroeléctrico (AHE) de Sistelo, que prevê a construção de uma central na margem direita do rio Vez, para produção eléctrica, a qual será posteriormente injectada na Rede Eléctrica Nacional através de uma linha aérea com seis quilómetros de ligação ao Posto de Corte de Alagoa de Cima.
O projecto está em consulta pública desde 11 de Maio – e até 5 de Junho – e sofreu algumas alterações desde 2007, data em que não avançou por ter merecido parecer condicionado. “A população está contra o projecto por considerar que a mini-hídrica vai trazer impactos negativos na paisagem, qualidade da água e património”, explicou o presidente da junta de freguesia de Sistelo, Sérgio Rodrigues.
Desenvolvida pela Hidrocentrais Reunidas, a empreitada será analisada pela Câmara Municipal de Arcos de Valdevez e Agência Portuguesa do Ambiente (APA). João Esteves, vereador da câmara, pediu à população para se mobilizar, uma vez que esta participação cívica “poderá contribuir para a decisão” final sobre o assunto. O parecer do município será dado a 4 de Junho, quinta-feira. Segue-se, mais tarde, o parecer da APA.
Entretanto, os cidadãos lançaram uma petição pública contra a construção do AHE do Sistelo. “O projecto em causa, que se encontra na fase de Consulta Pública do seu Estudo de Impacto Ambiental afectará directamente os territórios da freguesia de Sistelo, [mas também] Tangil e Merufe (Monção). A obra [provocará] forte quebra de caudal do rio Vez, que colocará em causa todo o curso do rio, que é a espinha dorsal do território do município de Arcos de Valdevez, ao longo do qual existem dezenas de moinhos, azenhas, praias fluviais e até uma ecovila”, explica a petição.
Ainda de acordo com o texto, todo este território está incluído na Rede Natura, estando também próximo da área do Parque Nacional da Peneda-Gerês, estando dentro da área classificada como Reserva Mundial da Biosfera pela Unesco.
O pequeno Tibete português
A região do Sistelo é conhecida como o pequeno Tibete português e foi moldada “pelo esforço dos seus habitantes ao longo dos séculos” que, de forma a poderem tirar algum rendimento daquelas terras, tiveram que transformar as montanhas em socalcos.
“Ninguém se lembra deles quando estão longe dos serviços de saúde, ninguém quer saber se possuem escolas para os seus filhos, ninguém se preocupa se têm estradas para evitar o isolamento e se não formos nós, cidadãos deste país, cairão de novo no esquecimento e toda a sua belíssima região e os seus costumes e tradições irão desaparecer com a construção desta mini-hídrica”, alerta o VortexMag.
Segundo o site, a mini-hídrica causará “alterações no leito do rio, no habitat de algumas espécies e pode provocar a criação de um microclima que irá mudar por completo os hábitos rurais seculares daquela região”. Além disso, implica ainda a “construção de estradões, condutas e postes de alta tensão que irão desfigurar a paisagem.
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