Misteriosa rã das Filipinas é, afinal, um híbrido

Há décadas que os cientistas andam em busca de uma misteriosa subespécie de rã terrestre que vive na ilha de Leyte, na região oriental do arquipélago das Filipinas.
Batizada com o nome científico Kaloula conjuncta stickeli, foi descrita pela primeira vez num artigo datado de 1954, com base em dois espécimes recolhidos 10 anos antes. Desde então, apenas mais cinco indivíduos foram encontrados.
Uma nova investigação confirma agora que essa enigmática rã, afinal, não é uma subespécie distinta, mas sim um híbrido, resultante do cruzamento de duas espécies diferentes de rãs do género Kaloula: a K. conjuncta meridionalis e a K. picta.
“Durante muito tempo, não tínhamos a ferramentas para perceber, pelo que as pessoas ou a consideravam uma subespécie ou questionavam a sua validade”, explica, em nota, Kin Onn Chan, do Museu de História Natural da Universidade do Kansas (Estados Unidos da América) e primeiro autor do artigo que, aparentemente, vem resolver um quebra-cabeças científico com 80 anos.
“Alguns punham a hipótese de ser uma espécie completa, uma que poderia já estar extinta. Ninguém sabia ao certo, pelo que permaneceu nessa área cinzenta”, recorda.
No entanto, a tecnologia hoje disponível permitiu analisar o material genético dos espécimes da alegada subespécie Kaloula conjuncta stickeli e confirmar que não é de facto uma subespécie, nem sequer é uma espécie. É, sim, um híbrido.
Os cientistas acreditam que a hibridação entre a K. conjuncta meridionalis e a K. picta se deu por causa da desflorestação, que afeta fortemente as outrora densas e luxuriantes florestas do arquipélago filipino.
“Normalmente, essas duas rãs não se cruzariam, porque uma vive em árvores e arbustos, mas a outra vive no solo, e elas reproduzem-se em local completamente diferentes”, descreve Chan.
“Mas a desflorestação alterou o seu ambiente, criando novos espaços abertos onde os seus habitats se sobrepõem um ao outro”, acrescenta, resultando no que diz ser “uma hibridação inesperada”.
Além disso, os investigadores descobriram que as rãs híbridas são inférteis, razão pela qual são tão raras, e são o que chamam de um “beco sem saída evolutivo”, ou seja, a hibridação começa e acaba com elas, não sendo possível transmitir os seus genes para gerações seguintes.