Monstros climáticos extremos: o que nos guarda o futuro



Um artigo publicado recentemente no El Pais faz uma interessante análise dos fenómenos atmosféricos que têm afectado o planeta nas últimas semanas: os furacões, as temperaturas elevadas deste Verão, as monções que provocaram enormes inundações na Ásia. “Tudo parece normal, mas não é: nenhum desses fenómenos é extraordinário, nem é produto das alterações climáticas; mas as consequências gerais do aumento das temperaturas são responsáveis, segundo a maioria dos cientistas, pela transformação de fenómenos naturais conhecidos em monstros climáticos extremos”.

O problema do furacão Harvey, por exemplo, não foi o furacão em si, mas o facto de ter “estacionado” no sul do Texas durante dias, provocando a queda de chuvas diluvianas, que inundaram Houston e toda a região. O mesmo aconteceu na Ásia. As monções deste ano também “são extraordinárias dentro da sua normalidade, este ano as chuvas chegaram mais cedo e com mais força do que nunca”. De acordo com dados de 1951 a 2000, refere o diário espanhol, o distrito do norte de Mumbai recebeu metade das chuvas habituais em Agosto em 24 horas.

“Ciclones de maior intensidade são uma das consequências esperadas das alterações climáticas”, afirma Valérie Masson-Delmotte, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organização científico-política criada por iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Citada pela agência noticiosa France Press, a meteorologista explica que “Quanto maior a temperatura da água e maior a humidade, mais o ciclone pode tornar-se intenso. Mas esses dois elementos são mais intensos devido ao aumento do efeito de estufa. Considera-se que há 7% de mais humidade na atmosfera por grau de aquecimento”.

Uma opinião confirmada por Anders Levermann, do Instituto Potsdam para Pesquisa sobre o Impacto Climático: “As alterações climáticas não criam essas tempestades, mas acentuam seus impactos”. 

A opinião dos especialistas é unânime. Citado pelo El Pais, Kevin Trenberth, especialista em sistemas climáticos do National Center for Atmospheric Research nos Estados Unidos, que estudou acima a influência do aumento global das temperaturas nas precipitações, diz: “O ambiente mudou devido a mudanças climáticas provocadas pelo homem e isso levou a tempestade ser mais intensa e mais longa. Estamos a observar este tipo de fenómenos extremos em muitas partes do mundo. O clima segue seu curso natural, mas os fenómenos extremos são mais fortes e muitas vezes quebram recordes”.

Harvey Noah S. Diffenbaugh, professor de sistemas climáticos da Universidade de Stanford, disse ao The New York Times. “Meus colegas e eu estabelecemos recentemente que as mudanças climáticas aumentaram as hipóteses de ocorrência de ondas de calor que batam recordes em 80% do planeta e que eventos extremos de chuva ou seca ocorram em 50% da Terra”.

Dá que pensar, principalmente, quando vários estudos mostram, segundo o Météo France, que “a latitude onde os ciclones atingiram sua intensidade máxima migrou para os pólos nos últimos 35 anos, em ambos os hemisférios”. O que quer isto dizer? Que “locais que estão mais habituados e mais bem preparados para enfrentar furacões podem estar menos expostos e outros, menos preparados, podem ficar mais expostos”, afirma James Kossin, da Agência Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), também citado pela AFP.

Foto: Creative Commons





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