ProTEJO aponta que “não há falta de água, mas sim uma má gestão”
Realizou-se esta manhã, na cidade de Abrantes, uma apresentação acerca dos “Caudais do Rio Tejo”, organizada pelo Movimento ProTEJO.
A sessão iniciou com o testemunho do Presidente da Câmara Municipal de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos, que referiu que a questão dos caudais era já conversada há cerca de oito ou dez anos; “Falava-se muito na poluição e eu já nessa altura falava nos caudais, e ninguém me deu muita atenção”. Sendo um fator importante para o futuro, esclareceu que o Município se encontra atento e a trabalhar nesta matéria.
O Presidente da Associação de Agricultores dos Concelhos de Abrantes, Constância, Sardoal e Mação, Luís Damas, por sua vez, destacou que o rio tem uma grande importância para os agricultores, que “sempre viveram do rio”, sendo crucial para a rega mas também para a amenização das temperaturas, algo essencial para algumas culturas. “O rio faz, como todos os rios e bacias, um microclima desta região. Se não houver água esse microclima toma outro rumo”, explica. Em simultâneo, apontou que o Tejo “está a ser gerido por uma questão económica do preço da energia”.
Paulo Constantino, porta-voz do Movimento ProTEJO, iniciou a apresentação dando a conhecer a situação dos caudais do rio Tejo, que têm vindo a ser cada vez mais reduzidos. Como começou por dizer, o grupo voltou a reunir-se pela mesma causa “três anos depois”, no entanto, com novos problemas: “Agora por um facto tocável (…) o esvaziamento de duas barragens, quando existiu um ano extremamente húmido. Isso só veio dar prova aquilo que temos vindo a dizer há imenso tempo.”
Como foi referido, a situação está a ter impactos negativos, não só a nível de detioração do estado ecológico das águas, dos próprios ecossistemas, mas também a nível da atividade humana, no que diz respeito às atividades de pesca, da agricultura e do turismo.
O especialista informou que existe uma disponibilidade hídrica da bacia do Tejo de 10.118 hm3, e que o escoamento em Portugal é de 4.741 hm3. Cerca de 155 hm3 é armazenado nas barragens e 6.485 hm3 chega à foz. Segundo justificou, o transvase não é também um problema, porque representa apenas 2% do uso da água, e ainda que a Convenção de Albufeira possibilite o transvase de 1000 hm3, nos últimos anos este tem sido em média de 288 hm3. Paulo Constantino ressalvou assim que não há falta de água, mas sim uma má gestão da mesma, visível na regularidade com que ela chega. Por outro lado, acusa as empresas hidroelétricas espanholas de olharem para apenas para a maximização do lucro.
Segundo a Convenção, ficou estipulado um caudal mínimo anual de 2700 hm3 para o rio Tejo, um número muito abaixo do que seria adequado para a sua distribuição. “Os caudais mínimos semanais e trimestrais estabelecidos no Protocolo Adicional à Convenção de Albufeira, que afluem de Espanha, são insignificantes por representarem, se cumpridos, apenas 13% e 37% do caudal anual de 2.700 hm3, permitindo assim uma grande variação dos caudais durante dias, as semanas e os trimestres “, apontou o porta-voz do Movimento, acrescentando “Aquilo que nós achamos é que deveria ser distribuído todo a 100% e não apenas a 37% por trimestres, pelas semanas e pelos dias, e ser medido em metros cúbicos por segundo, ser um caudal contínuo e regular”.
O ProTEJO quer assim assegurar que o rio Tejo tem caudal e é um rio livre, através do estabelecimento de um regime de caudais ecológicos, diários, semanais e trimestrais instantâneos e contínuos, medidos em metros cúbicos por segundo, que assegurem um natural ciclo ecológico da água de acordo com a sazonalidade das estações do ano. Propõe ainda que sejam investidos 10 milhões de euros na construção de uma Estação de Captação de Água diretamente do rio Tejo na zona da Lezíria do Tejo para uso agrícola, que seja promovida uma agricultura sustentável, e a criação de uma rede integrada entre Portugal e Espanha, que permita uma melhor gestão destes recursos hídricos.