Na Austrália, os microplásticos no ar são suficientes para fazer mais de 3 milhões de garrafas por ano



Uma equipa de investigadores da Universidade de Auckland descobriu que todos os anos cerca de 74 toneladas de microplásticos caem da atmosfera sobre essa cidade neozelandesa. Essa quantidade equivale a mais de três milhões de garrafas de plástico por ano.

Através de um artigo publicado na revista ‘Environmental Science & Technology’, os cientistas alertam que as partículas de plástico, devido às suas dimensões microscópicas, levantam preocupações quanto à saúde humana. Os especialistas temem que esse microplásticos que circulam no ar de Auckland possam estar a ser inaladas pelas pessoas e a acumular-se nos seus organismos.

Joel Rindelaub, um dos autores do artigo, afirma que os investigadores em todo podem ter subestimado “drasticamente” a quantidade de microplásticos que circula pelo ar, e que os níveis registados em Auckland estavam “muitas vezes acima” dos valores registados em Londres, em Hamburgo e em Paris, porque “os cientistas no novo estudo usaram métodos químicos sofisticados para detetar e analisar” partículas minúsculas que podem não ter mais do que 0,01 milímetros.

Micropartículas de plástico são uma ameaça para a vida marinha e também para a saúde humana.

Nessa cidade da Nova Zelândia, a média de microplásticos encontrados por metro quadrado num só dia era de 4885 partículas, face às 771 detetadas em Londres, às 275 de Hamburgo e às 110 de Paris.

Rindelaub diz que é necessário mais trabalho de investigação para perceber exatamente “quanto plástico estamos a inalar”, pois “está a tornar-se cada vez mais claro” que o ar é uma importante via de exposição a essas substâncias sintéticas.

Os cientistas envolvidos neste trabalho sugerem que a concentração de micropláticos no ar de Auckland pode ser causada, ou intensificada, pelas ondas que rebentam o Golfo de Hauraki, com perto de quatro mil quilómetros quadrados. Ao rebentarem contra a costa, o microplásticos que flutuam no mar, fruto da poluição causada pelas sociedades humanas, acabam por ser transferidos para o ar. Devido à sua reduzida dimensão, são transportados pelos ventos que sopram sobre essa cidade.

Assim, os autores argumentam que o ar pode mesmo ser uma via fundamental do “transporte global de microplásticos”, uma hipótese que ajuda a explicar “como alguns microplásticos acabam na atmosfera e são transportados para lugares remotos”, como a Nova Zelândia.

Das partículas analisadas, “quase todas demasiado pequenas para serem vistas a olho nu”, o polietileno foi a substância mais detetada, seguida pelo policarbonato e pelo politereftalato de etileno, mais conhecido como PET.

Os cientistas alertam que o nanoplásticos, ainda mais pequenos do que os microplásticos, podem mesmo entrar nas células do organismo, passar fluir pela rede sanguínea e acumular-se nos tecidos, como no fígado ou no cérebro, com consequências potencialmente devastadoras para a saúde.

Escrevem os autores que “os microplásticos foram também detetados nos pulmões humanos” e até em tecido de cancros pulmonares e também na placenta de mulheres grávidas, “indicando que a inalação de microplásticos atmosféricos é um risco para os humanos”.

“Nos últimos 70 anos, 8,3 milhões de toneladas de plástico foram produzidas globalmente” e “apenas 9% foram recicladas, com o resto a ser incinerado ou depositado no ambiente”, alerta o artigo.

O Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) diz que desde a década de 1980 as concentrações de microplásticos aumentaram “significativamente na superfície das águas dos oceanos”, levantando preocupações sobre o seu impacto potencial nos ecossistemas e vida marinhos. Estima-se que todos os anos entrem nos oceanos entre 4,8 e 12,7 mil milhões de toneladas de plástico, com impactos negativos aos níveis social, económico e ambiental.






Notícias relacionadas



Comentários
Loading...