Nam Urban Farm: a primeira quinta urbana de Lisboa abriu portas em Marvila



A cidade de Lisboa inaugurou hoje a sua primeira quinta urbana de economia circular: A Nam Urban Farm. Sob o mote “From Waste to Taste”, este projeto de economia circular consiste na produção de cogumelos orgânicos com as borras de café Delta.

A Nam Urban Farm nasceu do sonho de Natan Jacquemin, um cidadão Belga que se apaixonou pelo país e viu em Lisboa a sua oportunidade, para desenvolver um negócio na vertente ambiental. Ao apresentar o seu projeto à Delta, Rui Miguel Nabeiro, CEO da Delta Cafés, viu ali uma oportunidade que unia a sustentabilidade ecológica e financeira, e que aliada à sua atividade principal de produção de café, contribuia para o ciclo de vida do seu produto e transformava a borra de café não em um resíduo, mas sim num novo subproduto alimentar a ser relançado no mercado.

O primeiro cliente parceiro do projeto foi o café “Boavida”, em 2018, mas atualmente, os parceiros já são mais de 100 restaurantes. Como afirma Natan, mesmo durante o período pandémico a produção manteve-se e o número de parcerias continuou a crescer.

Atualmente a procura já excede a oferta, em apenas 6 meses foi possível recuperar 18 toneladas de borras de café, o equivalente a 1 milhão de cafés Delta. Em termos de impacto ecológico estes números traduzem-se ao equivalente a 500 árvores plantadas. Com a produção de 1 tonelada por mês de cogumelos, já saíram do espaço 30 carrinhas elétricas da Nam em direção a restaurantes.

Entre várias ambições para a quinta urbana nos próximos três anos, Natan destaca alguns: fazer parceria com mais restaurantes, criar uma comunidade de agricultores urbanos de economia circular, mudar o paradigma da fábrica – “não tem de ser o edíficio que deita fumo para o ambiente, pode ser uma oportunidade de reaproveitar o desperdício da economia” -, chegar às regiões de todo o país, e  cultivar mais tipos de cogumelos. Além disso, a visita das escolas é também um objetivo a alcançar, dado que o próprio acredita que “a educação é o pilar mais importante para criar um mundo melhor”.

Rui Miguel Nabeiro deixa claro: “Queremos muito que o projeto Nam seja um projeto inspirador, que já o é, e que possa de alguma maneira inspirar jovens empreendedores a apostarem neste tipo de ideias”. Por outro lado, “o produto que vendemos vem da terra”, e como tal, explica, “aquilo que aqui estamos a fazer na Nam é de alguma forma devolver à terra aquilo que vem da terra”. Também a nível de plano económico, esta parceria trás benefícios, “alargando o ciclo de vida do nosso produto estamos a acrescentar valor à sociedade, para a economia”, conclui.

O evento de inauguração contou também com a presença de Fernando Medina, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, que em discurso deixou alguns pontos assentes: Em primeiro lugar, “esta ideia de que as cidades têm que passar a ser vistas como centros de produção de alimentação”, que aponta como “as grandes transformações que vamos ter de fazer para o futuro”.

“Eu não tenho dúvida de que as cidades que estão na linha da frente desta reforma verde, desta revolução verde, vão apostar no aumento significativo da capacidade de produção no espaço urbano e há múltiplas formas de o fazer, desde equipamentos públicos, mercados públicos, ao topo dos edifícios”, afirma o Autarca.

“Se este projeto tem uma dimensão de preocupação de sustentabilidade, tem uma dimensão de preocupação de, no fundo ser um farol, de mostrar como é que uma empresa socialmente  responsável se comporta, como é que uma empresa com preocupação de sustentabilidade ambiental se comporta, há aqui um lema que é muito importante sublinhar: é que esta operação é uma operação que pode ser lucrativa”, realça, acrescentando, “A sustentabilidade além de ser aquilo que nós precisamos, do ponto de vista estratégico, mas para aqueles que têm que gerir no dia a dia, nas contas trimestrais, isto não é incompatível com isso, pelo contrário, isto é uma fonte de poder trabalhar nessa base, e não tenho duvida de que este será dos maiores e melhores exemplos que podem sair daqui deste projeto”.

Nesta produção, em que as borras de café são o ingrediente principal, o processo de desenvolvimento separa-se em diferentes partes, como explica Carolina Gonçalves, parte da equipa da Nam. A biomassa do café vem das vending machines das empresas, no entanto, não são feitas rotas extra dado que a Delta na mesma viagem que vai entregar o café de manhã, recolhe as borras de café do dia anterior. Já na quinta, as borras são misturadas com palha e micélio (mistura de 80% de borra de café). Na sala de incubação os cogumelos ficam em sacos durante três semanas, onde são imitadas as condições do cogumelo no meio selvagem – como se estivesse dentro do tronco das árvores – e após esse período o saco passa de cor castanha, para cor branca. De seguida, os sacos passam para outra sala onde é simulada a estação de primavera, e onde se dá a frutificação. No espaço de 2 a 3 semanas, nascem os cogumelos Ostra (Pleurotus ostreatus), que ficam prontos a recolher. No fim os restos servem como fertilizante, que alimenta a sua horta e as hortas urbanas de Lisboa.

“Outra ideia engraçada do projeto é que nós só vendemos os cogumelos num raio de 20 quilómetros, portanto a ideia aqui não é exportar cogumelos nem vender para sítios mais do que 20 quilómetros, porque a ideia é manter a localidade e a circularidade do projeto. A ideia depois é termos contentores espalhados pela cidade, recolhem a borra local e produzem cogumelos para esse sítio”, explica.

A Nam Urban Farm abre assim hoje as portas ao público, que passa a poder visitar o espaço e a conhecer e aprender como os cogumelos são produzidos. As visitas guiadas realizam-se todas as terças e quintas, às 17:30 horas. Apesar dos cogumelos seguirem para restaurantes, também existe a opção do consumidor final os comprar no espaço.





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